CARMAS HUMANOS
segunda-feira, 10 de novembro de 2008 « escrito por Carmen Arabela
O carma universalO objetivo desta série de conversas é compreender perfeitamente o carma. Isto porque muito se fala neste planeta a respeito de carmas, mas pouco se conhece sobre o que realmente ele é. Iremos, então, nos próximos dias, conversar sobre ‘o carma’.
Primeiro detalhe: carma não tem nada a ver com aquilo que você imagina que é. Digo isto porque para muitos o carma é uma pena, um castigo, ou seja, uma razão de sofrimento. Mas o carma, dentro do conhecimento universal deste tema, não é isso.
Carma é a reação a uma ação; instrumento do qual a lei de causa e efeito se utiliza para agir. O carma é o efeito gerado por uma causa. Só isso; mais nada que isso.
Carma nada tem ver com castigo, aplicação de penas ou julgamento. Carma é o resultado de uma soma: dois mais dois é sempre igual a quatro. Ou seja, é o carma é o momento subseqüente derivado de um determinado tipo de ação.
Ele é só isso. Todo resto que a humanidade imagina sobre o carma (ser penalidade, castigo) é tudo ilusão, porque o carma, como acabou de ser definido, é a exata colheita do que foi plantado.
Quem planta arco-íris colhe bonança; quem planta vento colhe tempestade. Não como pena ou castigo por ter semeado determinada semente, mas porque esta é a única produção que pode ser colhida a partir daquela semeadura. Este é o carma.
Desta forma, se ele não é nem pena nem castigo, não há razão de sofrer quando ele ocorre. No entanto, muitos podem sofrer durante a ação do carma, assim como muitos podem ter prazer também durante ela. Isto é opção livre (livre arbítrio) de cada um.
Portanto, não é o carma em si que faz o prazer ou a dor, mas cada um ao vivenciar o seu pode optar por sofrer (sentir-se penalizado ou condenado) ou ter prazer (sentir-se agraciado pela ação carmática).
Este é o primeiro aspecto ligado ao carma que gostaria de deixar bem claro: ele não está vinculado a prazer ou a dor, mas está simplesmente respondendo a alguma coisa que foi anteriormente feita pelo ser universal.[1]
Participante: Se é uma reação a uma ação, e a ação é um ato que é praticado pelo personagem[2] que o espírito vivencia durante a encarnação, então o carma é do personagem somente?
Não falei em ação como ato, mas como atividade. Você como ser universal tem a sua atividade espiritual, que não é mexer braços (ato físico) já que espírito não possui este elemento. Falei em atividade espiritual do ser universal naquilo que o espiritismo chama de erraticidade.
Então o carma é do espírito, pois acontece durante a encarnação ou não. No entanto, o carma mas não está nele (espírito). Já compreenderemos melhor, mas por enquanto saiba que o carma não está no ser universal.
Continuemos nosso estudo.
Dito isso, afirmo agora: o carma é a própria vida. Isto porque a vida, a existência, pode ser definida como uma sucessão de momentos que se sobrepõem um ao outro. Portanto, cada um deles é um carma, ou seja, a exata reação ao que foi praticado no momento anterior.
Portanto, onde há existência – e repare que não estou falando apenas em vida carnal, mas em existência de um ser universal – há carma e sem ele não haveriam existências. Se não houvesse uma conseqüência, um efeito, não haveria o momento sucessor do presente e, assim a existência não teria continuidade: se estagnaria.
Continuando na nossa busca da compreensão sobre o carma, afirmo, então, que ele é cada momento de uma existência do ser universal, seja ela na carne ou fora dela. Cada momento da existência de um espírito é um carma, porque é o reflexo gerado por uma atividade anterior.
Isso precisa ficar bem claro. Será que, no momento, a atividade da sua existência é estar me ouvindo? Não, o que está acontecendo neste momento é um carma. Isto porque o fato de estar aqui agora não foi uma decisão sua, mas uma reação a um momento anterior. Você está aqui porque foi trazido e não porque quis vir.
NOTA: Tal afirmação se baseia no ensinamento contido em ‘O Livro dos Espíritos’ (pergunta 851) onde o Espírito da Verdade afirma que tudo o que acontece durante a existência carnal de um espírito é fruto de sua escolha antes da encarnação. Este tema foi debatido em diversas outras palestras deste amigo espiritual.
Posso dizer, então, como definição, que o carma é os acontecimentos de uma existência. Não importa o que esteja acontecendo: seja o presente momento considerado como ‘bom ou mau’, ‘certo ou errado’, ‘bonito ou feio’, é sempre um carma, um reflexo de uma atividade anterior do espírito.
Mas, o que é um acontecimento, ou seja, o que é estar vivenciando o momento de estar aqui agora, por exemplo? Eu diria que é uma conscientização que se toma de algo.
Veja bem. Existem as percepções que são recebidas pelos órgãos de sensibilidade do corpo (visão, audição, paladar, olfato e sensibilidades). Elas, depois de captadas, são levadas ao ego (mente) e, através daquilo que a humanidade chama de ‘processo raciocínio. A mente cria uma consciência, ou seja, lhe conscientiza de estar acontecendo determinada coisa.
Voltando ao exemplo que estávamos comentando – estar aqui me ouvindo – posso afirmar que este acontecimento só existe porque, a partir das percepções, a mente de cada um de vocês criou a consciência de que estão aqui.
Portanto, se antes defini o carma como os acontecimentos da existência, agora afirmo que ele não é a ação em si da qual você está participando, mas a conscientização que sua mente está lhe dando. Tudo que você toma consciência cria uma realidade e, ao criá-la, um carma foi gerado.
Por isso, eu respondi agora a pouco: o carma é do espírito - resultado de uma atividade anterior do ser universal - mas está no ego. Quem faz o carma, ou seja, constrói o acontecimento, que é a reação a uma atividade do espírito, é a mente, pois é ela que cria a compreensão do que você está vivenciando.
Isto é importante de compreender porque a humanidade acredita que o carma existe externamente a si, mas ele está dentro de cada um. Vocês têm a mania de dizer que outras pessoas ou situações são os seus carmas, mas isso não é verdade. O carma não é a pessoa ou a situação que está sendo vivenciada, mas sim aquilo que cada um acredita (tem consciência) que está acontecendo. Ou seja, o carma é o que você está consciente de estar acontecendo e não o que existe no mundo exterior, fora do seu raciocínio.
O seu raciocínio, ou seja, o que acredita estar vivenciando, é, portanto, o seu carma e não o outro em si. Isto porque a compreensão que você tem sobre ele é fruto de uma atividade anterior sua (espírito). Esta atividade que gerou o momento atual foi a aceitação que você teve quando o ego lhe apresentou uma compreensão anterior.
NOTA: Durante o estudo do ego (‘Conhece a ti mesmo’) ficou definido pela espiritualidade que o ego é o tentador, ou seja, é aquele que propõe realidades e verdades ilusórias (mayas) às quais o ser universal deve libertar-se não crendo nelas. Se o ser acredita nelas elas se incorporam ao ego e servem como base para criação de novas verdades e/ou realidades.
Desta afirmação nasce, então uma compreensão: o ego constrói as compreensões que definem o que cada um está vivenciando naquele momento e, ao construí-las, vai dando ao ser universal seus carmas. Esta é a realidade sobre carma: tudo que você imagina estar vivendo é, na realidade, um carma e é assim porque tudo que vivencia é fruto de uma conscientização que o ego cria e você acredita ser real.
Agora posso ser mais específico sobre os seus carmas: ‘aquela mesa é bonita’; ‘aquela pessoa é feia’; ‘aquele é o meu carro’; ‘aquela é a coisa de fulano’… Todas estas compreensões são carmas, porque são consciências que foram formadas pelo ego a partir da percepção de determinadas coisas.
Ou seja, tudo o que seu ego lhe diz é o seu carma. E mais: é o resultado de uma ação espiritual sua anterior. Não importa o que seja (‘hoje estou me sentindo bem’; ‘hoje não estou me sentindo bem), tudo que lhe vêem à mente é o seu carma. Tudo que você toma consciência é um carma.
Participante: Então, quando estudamos, mesmo os assuntos espirituais, nós estamos adquirindo carmas? Afirmo Isto porque estaremos nos conscientizado de algo…
Antes de respondê-lo, deixe-me dizer algo. Um dos mais belos textos sobre existência espiritual é o livro ‘Eclesiastes’ ou ‘O Sábio’ da Bíblia. O nome varia de acordo com a edição das bíblias.
Neste livro, Salomão, que foi o mais sábio dos profetas, tenta analisar o que é viver e chega à conclusão que é tudo ilusão. Querer viver é uma ilusão, porque a vida transcorre sem que você tenha comando sobre ela. E por isso ele afirma no texto: querer viver a vida é como correr atrás do vento.
E, depois de analisar praticamente todas as situações de uma existência, o profeta termina com um conselho… “Filho, há mais uma coisa que eu quero dizer: os livros continuarão a ser escritos; estudar demais cansa a mente” (Eclesiastes – 12,12).
Respondendo-lhe diretamente agora, sim, cada coisa que você passa a saber, cada compreensão que toma de uma leitura, cria um carma.
Saiba que o verdadeiro sábio é aquele que nada sabe…
Então, toda leitura deve lhe servir para destruir alguma coisa sem criar nada novo. Neste caso, ela não gerou carmas…
Participante: E como acabar com os carmas? Parando de pensar?
Já falaremos disso…
Participante: Acreditar no carma com paixão ou sem paixão tem muita diferença?
Nenhuma, porque quem acredita já tem uma paixão. A crença, o acreditar, é fuma paixão. Se você acredita em alguma coisa é apaixonado por uma verdade.
Então, não há diferença nenhuma porque acreditar já é uma paixão.
[1] Neste texto, ser universal é a mesma coisa que ‘espírito’, ‘alma’, etc. Trata-se do elemento inteligente que habita o Universo.
[2] Entende-se como ‘personagem’ a personalidade que um ser universal assume durante uma encarnação. O José, a Maria, o Joaquim ou qualquer ser humano que o espírito imagine ser durante a encarnação.
O carma do ser humanizadoEu disse antes que o carma é apenas o reflexo de um momento anterior. Mas, quando o ser universal está encarnado (ser humanizado[1]), o carma passa a ter uma especialidade a mais: ele é a provação do espírito.
Tudo aquilo que o ser humanizado toma consciência faz parte da provação do espírito para aproximar-se de Deus. Isso porque o Espírito da Verdade nos diz a encarnação, a vida humana, tem como objetivo a provação do espírito. E como o acontecimento (o desenrolar da vida) não é o que está fora, como já vimos, mas aquilo que cada um compreende internamente, a conscientização de algo é a prova.
Então, carma, para o espírito encarnado, nada mais é do que as suas próprias provações. Cada coisa que você acredita é um carma e cada crença é uma prova. Então, cada carma é uma prova.
Isso é importante compreendermos, porque o carma não se cria por acaso e nem quando encarnado, nesta encarnação. Ele é criado antes, ou seja, quando o espírito ainda está na erraticidade e é sempre um reflexo do estado espiritual deste ser antes de entrar em provações ou missão.
NOTA: Mais uma vez o amigo espiritual baseia-se em ensinamentos anteriores.
Em ‘O Livro dos Espíritos’ encontramos a afirmação de que o espírito escolhe antes da sua existência carnal o gênero de suas provações (258) e que esta escolha está motivada pela consciência que o espírito tem de si mesmo frente à comunidade espiritual (pergunta 264).
Como já falamos anteriormente, o espírito escolhe o gênero de suas provas ou missão antes da encarnação e o carma é montado pelo ego, através do comando de Deus, exatamente em cima do gênero da prova que cada um escolheu para vivenciar durante a encarnação.
Desta forma, se você é muito ‘bonzinho’ nas suas compreensões – sempre procura o lado ‘bom’ das pessoas’ – isto é um carma e ocorre para que não acredite nesta ‘bondade’. Se, ao contrário, suas compreensões sempre vêem o mau nos acontecimentos da vida, o seu carma é não acreditar na maldade.
O carma, que foi definido como um reflexo de uma ação anterior do espírito é, portanto, durante a encarnação, o reflexo do gênero de provas e/ou missões que aquele ser universal escolheu para si antes da encarnação.
Sendo assim, se você compreende que é pobre, este é o seu carma, é a sua prova. Se você se acha feio este é o seu carma, porque nesta consciência (ser feio) está embutido o gênero da sua provação espiritual.
Com isto fica um grande ensinamento: a compreensão que você tem das coisas não é à toa: tem um propósito bem definido. Ela está fundamentada naquilo que você pediu antes da encarnação como provação e é uma oportunidade para você provar a si mesmo que aprendeu o que ‘estudou’ na erraticidade antes de encarnar.
Quem pediu para provar que pode vencer a ganância, por exemplo, gera para si determinados carmas e, por isso, terá sempre conscientizações fundamentadas nesta postura sentimental (irá querer possuir tudo que ver) porque só assim poderá provar que aprendeu a não ser ganancioso. Quem tem conscientizações fundamentadas na luxúria veio a esta vida para tê-las, ou seja ter este carma porque precisa provar que venceu tal tendência.
Como defini antes, carma é o reflexo do momento anterior e ele se materializa através da conscientização que o ser universal tem a cada segundo da sua existência. Quando na vida carnal, ou na encarnação, porém, o carma materializa também a prova que o ser universal se expõe quando se humaniza. Ao decretar uma conscientização, o ego cria um carma que também é a prova do ser universal que está de acordo com o gênero pedido por aquele antes da encarnação.
E é por isso que Krishna afirma que ninguém consegue agir diferente da sua personalidade. E o que é personalidade senão o gênero de prova que cada espírito escolhe para si…
Se você é nervoso, as suas compreensões sobre os acontecimentos da vida vão sempre se embasar no nervosismo; se tem uma personalidade depressiva, as suas conscientizações vão sempre alcançar a realidade de um sofrimento. Mas isto não quer dizer que você seja ‘certo’ ou ‘errado, ‘bom’ ou ‘mau’ por ter estas compreensões’: elas são desta forma porque ao tê-las desta forma estará vivenciando nestes carmas o gênero de provas que pediu para provar que já se libertou disso.
Aí está, portanto, o carma na vida humana do ser universal: um reflexo de outro momento na existência eterna do espírito, que possui a propriedade de criar uma provação que reflita a condição espiritual deste ser na erraticidade.
Participante: Velho, então você tem carma? Digo isso porque deve ter consciência de algumas coisas….
O único que não tem carma é Deus, porque é o único que não tem ego. Todo espírito, inclusive Cristo, o espírito mais elevado que você tem notícia, tem ego.
Havendo ego, há conscientizações. Havendo conscientizações, há carmas. Portanto, eu tenho carma…
Agora qual a diferença entre eu e você, ou seja, qual a diferença na forma como convivo com meus carmas e você com os seus? Eu sei que o que o meu ego cria é um carma e não uma realidade ou verdade.
Você acha que está me ouvindo porque está percebendo o som. Eu não acredito que ouço nada, porque sei que cada som que eu tiver consciência de ter ouvido foi um carma e mais nada que isso. A partir desta consciência, então, eu inibo a compreensão enquanto você, que acredita estar ouvindo, deixa o ego criar novas verdades que mais tarde servirão para novos carmas. Como não acredito que estou ouvindo qualquer coisa, não há nada para ser entendido, explicado ou acreditado: apenas carma.
Além disso, no meu caso, por não estar encarnado ou em provações, o meu carma não é prova, mas missão. Mas, tem muito encarnado que também está em missão e para eles também, o carma não é uma provação.
Por isso disse antes que o carma, durante a encarnação, gera o gênero da provação e/ou da missão dos espíritos.
Participante: No ‘livro da vida’[2] estão escritos os carmas e o gênero das provas?
No ‘livro da vida’ não estão escritos nem os carma nem os gêneros de provas. Isto porque, os carmas criados a partir dos gêneros de provas são o ‘livro da vida’.
Veja bem. Aquilo que rotulamos anteriormente como ‘livro da vida’ não é um livro composto por páginas onde se escreva alguma coisa. Este instrumento espiritual é a reunião de informações para balizar uma existência carnal e as informações que constam lá são os carmas criados a partir dos gêneros de provas.
Estou falando em carma não como ato, mas como compreensão. O que está no ‘livro da vida’ ou as informações que são reunidas para criar a provação de cada ser é a fundamentação que será utilizada por cada um para compreender a cada momento. Não o que fará, mas o que compreenderá a cada momento. Ou seja, que realidade criará.
Respondidas as perguntas, continuemos nosso estudo. Vamos falar agora da formação do carma, da compreensão que os espíritos que encarnam no planeta Terra têm dos acontecimentos.
Outro dia, disse que a quantidade de gêneros de provas é muito pequena. Na verdade eles se resumem a um só: o egoísmo.
Todo carma é criado a partir do egoísmo, porque todo espírito encarnado no planeta Terra está primariamente em provação contra esta postura sentimental. Ou, como ensinou o Espírito da Verdade, o egoísmo é mãe de todos os males (O Livro dos Espíritos – pergunta 913).
É por isso que toda compreensão que um ser humanizado alcança é formada a partir do eu: ‘eu acho’, ‘eu sei’, ‘eu gosto’, ‘eu faço’, ‘eu quero’. Toda realidade que o espírito encarnado vive é criada a partir de um individualismo, de um saber individual. Por isso afirmo que toda compreensão que um ser humanizado tem é individualizada.
A partir desta visão, então, posso começar a responder o que me perguntaram anteriormente: como vencer o carma?
Para vencê-lo é preciso vencer você mesmo, ou seja, vencer as compreensões individualizadas e egoísticas que tem sobre as coisas (pessoas, objetos e acontecimentos) da vida carnal. Isto porque para compreender qualquer coisa o ser humanizado só parte do que acha que sabe, ou seja, o que já tinha consciência formada anteriormente.
Todo carma, então, se fundamenta no ‘eu’, ou seja, toda compreensão racional se fundamenta naquilo que você sabe e, por isso, é egoística. Sendo assim, posso afirmar que todo carma é uma proposição de prova para você se libertar deste ‘eu’ que está vivendo, pois ele é individualista, enquanto que aqueles que estão próximos de Deus são universalistas.
Quando falo no ‘eu’ do qual precisa se libertar, estou falando no José, na Maria e no Joaquim, ou seja, no ser humano, na personalidade humana, que você imagina ser.
O carma dos espíritos encarnados no planeta Terra, portanto, é sempre formado através de uma conscientização egoística. E esta realidade confere com o que foi ensinado pelo Espírito da Verdade, pois o gênero de provações contra o uso do egoísmo é, primariamente, o gênero de provação no planeta Terra.
Mas, o conhecimento sobre a criação do ego quando encarnado não pode parar por aqui. Se assim fosse, seria muito simples… Os espíritos enviados de Deus viriam até os seres humanizados e diriam que é preciso vencer o egoísmo. No entanto, só isso não bastaria, como não bastou até agora…
Isso porque tudo que os enviados de Deus falam gera uma compreensão para cada um. E, como esta compreensão é ainda fundamentada no egoísmo (‘eu sei’), apesar de vocês não terem consciência desta postura sentimental sendo usada na compreensão, nada teria sido mudado.
Na realidade, apenas ensinar que vocês devem combater o egoísmo levaria cada um a dizer que não é egoísta, mas verdadeiro e, com isso ‘bateriam o pé’ e acreditariam que vocês estavam ‘certos’ e o mentor ‘errado’. E, quando compreendessem isso, não veriam que o egoísmo (‘eu sei’) esteve presente.
Precisamos, então, aprofundar um pouco mais no estudo da formação do carma, ou melhor, precisamos entender através de quais aspectos o egoísmo se faz presente. Ou seja, precisamos compreender os frutos da ação do egoísmo, para podermos, então, começar a trabalhar na luta contra nós mesmos. Vamos falar deste assunto…
Da intenção egoística nascem os carmas possessivos, ou seja, compreensões racionais baseados em posses. Delas surgem as paixões e, fundamentada nestas últimas nascem os desejos, positivos e negativos. Conhecendo a presença de cada um destes frutos do egoísmo nas compreensões que você tem das coisas da vida, dá para compreender melhor a ação carmática[3]. Vamos, portanto, buscar entender cada um destes elementos.
Existem três tipos de posse que surgem pela ação egoística com a qual se fundamenta o ego: a posse dos elementos matérias, a posse sentimental e a posse moral…
A posse dos elementos materiais é aquilo que é expressado através do da compreensão ‘é meu’. Todo carma, ou seja, toda compreensão (conscientização) fundamentada no ‘é meu’, caracteriza uma provação para o espírito encarnado dentro do gênero de provações vinculado à possessão de elementos materiais.
Imagine-se na ‘sua’ casa… Olhe à sua volta… Tudo isso que está vendo é seu? Sim, é isso que você acredita. Mas, esta compreensão não é real, pois tudo que existe é do universo e a prova maior disso é que você não tem controle sobre nada: o ‘imprevisto’ (Deus) dispõe daquilo que você diz que é seu ao seu bel prazer.
Por isso, a compreensão que você tem sobre eles (‘é meu’) trata-se apenas de uma possessão destes elementos materiais e não de uma realidade… Esta compreensão racional só existe para você como carma, como instrumento de provação e não como realidade. É uma prova para o seu egoísmo de achar que é alguma coisa é sua.
Olhe para seu corpo. Achar que ele é seu é uma posse de um elemento material, é uma consciência que o ego gerou como prova, como carma, porque nela está embutido o egoísmo através do gênero possessão dos elementos materiais.
Veja bem. Se o universo é uno, como afirmam os mestres e como a física quântica já está começando a provar, não existem propriedades particulares nele, pois não existe nem a própria particularidade. Aliás, como diz o Espírito da Verdade, o ser humano tem o direito à propriedade particular, mas assim que a conquistar deve franqueá-la a todos. Então, não há particularidade nenhuma nesta propriedade.
Portanto, aí está um carma para os seres universais humanizados: tudo o que cada um acreditar (ter consciência) que é seu, é um carma. E, aquilo que você imagina ser seu (o objeto ou a pessoa) é apenas o instrumento para uma conscientização, ou seja, para que um carma surja e assim uma provação seja vencida.
Posse dos elementos materiais: isso é carma.
Outra posse: posse sentimental. Ela é expressa pelas compreensões ‘eu gosto’, ‘eu amo’, ‘eu não gosto’, ‘eu tenho raiva’.
Ter qualquer sentimento que não seja o amor universal com relação a outro ser do universo, encarnado ou não, configura-se numa posse sentimental. Isto porque você o possui (o caracteriza) por um sentimento que você nutre a partir da sua compreensão egoística dele.
Claro que todo este processo (de quem gostar e de quem não gostar) é comandado pela mente como já vimos…[4] Mas você, o espírito que está ligado a este ego acredita nisso e, portanto, vibra dentro deste mesmo padrão vibratório. Ao agir assim não vê que o que acha é fruto apenas do seu egoísmo, já que o outro não é ‘bom’ nem ‘mau’, mas um espírito puro, gerado à imagem e semelhança de Deus.
Tudo e todos que você gosta ou desgosta, ama ou não, são conscientizações geradas pelo ego para que surja um carma, para que uma prova seja vivida dentro do gênero ‘possessão sentimental das coisas’, que é fruto da ação egoística.
Terceira posse: a posse moral. Ela é expressada pela conscientização ‘eu sei’. Isto é carma: saber qualquer coisa, declarar que conhece a verdade, ter consciência do ‘certo’ e do ‘errado’, do ‘bonito’ e do ‘feio’, do ‘bom’ e do ‘mal’…
Todas estas compreensões são ações carmáticas criadas pelo ego, porque são consciências que você tem formadas apenas pelas suas próprias verdades. É um carma porque, ao contemplar apenas o que você acha que sabe, as compreensões estão fundamentadas no egoísmo - quando os outros concordam com você, eles estão ‘certos’, mas quando discordam, eles estão ‘errados’ ou são ‘mentirosos’.
Desta forma, durante a existência carnal ou provação do espírito humanizado, o ego vai trabalhando criando consciências sobre as opiniões dos outros para dar a ele uma oportunidade de realizar suas provas, ou seja, para vencer ele mesmo. Vencer a sua própria opinião (o que gosta ou acha ‘certo’), o que acha que é dele…
Mas, até agora falamos muito em provas, mas o que será provar a si mesmo que aprendeu alguma coisa na erraticidade? Amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.
Se o ser humanizado tem posse moral, jamais conseguirá amar ao outro ou a Deus, porque só o que ele sabe é ‘bom’ e o outro, mesmo que seja o Senhor Supremo do Universo, não pode pensar diferente, pois será considerado ‘errado’…
Se o ser humanizado tem posse sentimental (gosta de quem lhe agrada), isso não é amor. Não ama a Deus, não ama ao próximo, mas apenas aquilo que o outro faz a ele…
E, se o ser humanizado diz que alguma coisa é dele (propriedade particular), gera a consciência de que precisa resguardá-la e, com isso, não coloca os seus bens à disposição do próximo e, com isso, não ama…
Portanto, não importa que tipo de possessão o ser humanizado exerça, existindo conscientizações fundamentadas nelas, os preceitos deixados por Cristo como os maiores mandamentos que devem ser seguidos não foram cumpridos.
NOTA: A questão da libertação das conscientizações que distinguem os elementos do Universo é ensinamento de todos os mestres, mas está muito clara no livro Gênesis da Bíblia Sagrada.
Como relatado no capítulo 3, Eva aceitou ‘comer a maçã’ pois achou que seria bom ter os poderes de Deus: ter os olhos abertos (a capacidade de distinguir) podendo, assim, definir o ‘bem’ e o ‘mal’. Se tal ato levou ao desterro do ‘paraíso’, apenas a reversão dele (o não querer ter este poder) pode trazer o espírito de volta à convivência com Deus em Seu habitat.
Então, o carma é uma consciência fundamentada no egoísmo e expressada através das possessões e ele existe para ser vencido, ou seja, para dar ao ser humanizado uma oportunidade de provar que apenas o amor deve existir nos relacionamentos com as coisas do Universo. Mas não um amor egoísta (‘é meu’, ‘eu gosto’), mas incondicional e indiscriminado. Para tanto é preciso pegar a espada que Cristo e os outros mestres afirmaram que trouxeram (seus ensinamentos) e matar as compreensões (você mesmo) que o ego cria.
Não fazendo isso, ou seja, mantendo as consciências possessivas geradas pelo ego, o processo de reforma íntima no sentido de se alcançar a elevação espiritual, está comprometido. Isto porque das possessões surgem dois apegos: à vida carnal (querer estar vivo e gozar a existência carnal pelos valores materiais) e o apego à humanidade (querer permanecer com esta personalidade).
Estes dois apegos são frutos do egoísmo e das possessões. Mas, porque eles são danosos ao processo de reforma íntima, de elevação espiritual? Porque acabam com a fé.
É isso: o egoísmo expressado pelas possessões acaba com a fé em Deus. O querer (amar, possuir ou saber) sempre fundamentado no que o ser humanizado quer, ama e acha ‘certo’, é a antítese da fé no Pai. Isto porque a fé é entrega com confiança: total e cega. Quem acredita apenas em si, nas consciências que tem, tem fé apenas em si mesmo, ou seja, se entrega e confia apenas nele mesmo e não a Deus.
Sendo assim, posso afirmar que o carma é uma prova de fé… Quem compreende a ação carmática, ou seja, a conscientização como uma provação fundamentada no egoísmo e expressa através das possessões, consegue entender que naquele momento está sendo submetido a uma prova de fé a Deus a si mesmo (egoísmo).
Se você compreende que não gosta do que está acontecendo eis uma prova para sua fé, ou seja, confiar em Deus e manter-se em ‘estado de graça’ (felicidade incondicional) mesmo não gostando. Acreditando na sua compreensão, terá que ‘sofrer’ e criticar os agentes daquele acontecimento e com isso expressa a sua fé em você mesmo e, por isso, age egoisticamente.
Se a compreensão que está vivenciando agora lhe diz que tudo que está acontecendo é ‘errado’, eis aí uma prova de fé, pois você terá a oportunidade de se libertar do egoísmo (achar que está ‘certo’) e declarar-se incompetente para saber deixando apenas a Deus a compreensão das coisas.
É isso… Viver com Deus, para Ele e Nele: este é o resultado do deixar-se guiar pelo egoísmo expresso através das posses que são usadas pelo ego para criar as compreensões. Com isso acaba o desejo de querer estar vivo (encarnado), de gozar a existência carnal pelos valores materiais.
Mas, o apego à vida e à humanidade do ser universal não é danoso apenas no sentindo espiritual, mas também no carnal. Isto porque ele gera o medo da morte. Na verdade, este medo não é propriamente da morte, mas da perda do ‘eu’, da humanidade que o ser universal está vivenciando. Portanto, mesmo que você queira apenas ‘viver’ bem materialmente, a libertação da ação das conscientizações (‘está certo’) é necessária.
Mas, apesar desta realidade, poucos são os que estão dispostos a realizar esta libertação. Por quê? Porque o espírito gosta do resultado da ação do egoísmo… Quando alguém faz o que você quer, lhe trata do jeito que gosta de ser tratado e concorda com tudo o que diz, você alcança o prazer e sente-se realizado. É por isso que não quer se libertar do ego.
No entanto, como ensinado pelos mestres, todos um dia terão que realizar, ou seja, em uma encarnação qualquer você terá que libertar-se de todas as conscientizações não se deixando levar pelo egoísmo. Agora, repare que falei todas e não apenas aquelas que você acha que deve libertar-se, ou seja, do que considera ‘errado’ fazer. Quando se fala de libertação das conscientizações é preciso compreender que mesmo o que a humanidade diz que é ‘bom’ ou ‘certo’ ainda é uma ação egoística.
Por exemplo: ser mãe. Esta é uma consciência que o espírito humanizado recebe do ego ao perceber o ‘nascimento’ do filho. Ela é um carma, uma prova e não uma ‘missão divina’ como define os seres humanos.
Isto porque o espírito que se compreende- como mãe age egoisticamente. A mãe só acredita no amor dela pelos filhos; só o que ela sabe o que é melhor para ele. Ou seja, ela não entrega o destino do filho na mão de Deus, que é o verdadeiro Pai deste espírito. Por que isso? Porque todas as compreensões deste ser humanizado estão fundamentadas numa posse sentimental (‘é meu filho’) e numa posse moral (‘eu sei o que é melhor para ele’).
Então, encerrando o assunto dos apegos, as compreensões que o ego gera para o espírito encarnado (carma), além de concretizarem possessões, ainda consagram o apego à vida material e no desejo do prolongamento da humanidade deste ser.
E, como o carma é uma prova, é por isso que nas realidades construídas pelo ego a ‘vida’ do ser humanizado está constantemente sobre ameaça. Portanto, o medo da morte com o qual os seres humanizados vivem é também um carma, ou seja, uma oportunidade para exercer a fé em Deus.
Participante: Existe o falar ‘minha casa’ sem o sentimento de ser minha casa, mas apenas porque não existe outra forma de falar desta realidade?
Eu não falei em falar… Até agora eu não abordei atos e nem vou falar sobre isso, porque o carma é uma compreensão racional, uma compreensão que lhe vem pelo raciocínio.
Respondendo a sua pergunta, fale o que quiser, mas se achar (tiver a compreensão interna) que a casa é sua não se libertou deste carma.
Libertar-se do carma não é falar ou deixar de falar determinadas palavras, pois o carma não está no ato, mas em compreensões que se expressam pela razão, por aquilo que você acredita interiormente. Portanto, se você acredita que a casa é sua interiormente, mesmo que da boca para fora diga ao contrário, ainda está preso ao egoísmo. Por isso, ainda precisará viver repetidamente carmas sobre este assunto porque ainda não se libertou desta provação.
Mas, aproveitando a sua pergunta, vamos falar agora da possessão especifica por um elemento. Falamos das posses apenas genericamente (possuir objetos, pessoas e verdades em geral); agora vamos comentar a posse sobre determinado elemento.
A posse, seja por elementos materiais, sentimental ou moral, por um elemento específico é chamada de paixão. Enquanto a posse gerada pelo ego através de compreensões egoísticas é genérica, a paixão é específica.
Usando como exemplo a última pergunta (minha casa), posso dizer que existe uma posse de característica ‘elemento material’, que é expressada pela consciência ‘é minha’ e uma paixão, que se exprime através do elemento ‘casa’.
Sendo assim, na consciência que você exprimiu em palavras de que aquela é a sua casa, está presente o carma fundamentado no egoísmo operando através de uma posse sobre elementos materiais e de uma paixão pela casa.
Este é o carma. Ele funde as posses e as paixões nas conscientizações que o caracteriza.
Outro exemplo: ‘ele é meu amigo’… Ter esta consciência denota a existência do egoísmo expressada por uma posse sentimental sobre um determinado ser humanizado. A ‘amizade’ é uma possessão sentimental e aquele que é objeto da amizade é a paixão do ser humanizado que serve de instrumento para o exercício da posse.
Acho que agora fica mais clara a questão do carma. Isto porque posse é genérico, mas a paixão é específica. A paixão é por algo; a posse é caracterizada pelo gênero de compreensão.
Agora podemos, também, compreender um pouco mais da pergunta sobre o ‘escrever o livro da vida’…
O ser universal sabe que tem que combater o egoísmo que está presente nele e que é expresso pelas posses dos bens materiais. A partir deste gênero de provação escolhida pelo espírito, Deus cria através do ego compreensões sobre determinadas coisas de tal forma que estas compreensões espelhem uma paixão por aquilo.
Então, por exemplo, quem precisa por missão ou provação, trabalhar a possessão moral, vai ter compreensões racionais de que determinadas pessoas estão ‘erradas’. No entanto, elas não estão ‘certas’ ou ‘erradas’, pois elas não têm nada a ver com a compreensão. Elas são simplesmente instrumentos carmáticos, ou seja, estão fazendo ‘figuração’ para que a lógica racional, que é o carma, aconteça.
O carma ou prova é a compreensão que ‘acha errado aquela pessoa’, pois isso parte do egoísmo. Existe, portanto, neste carma uma posse moral (achar que está certo) e a paixão, que é representada através daquela determinada pessoa.
Desta observação nos chega uma verdade: para o mesmo gênero de possessões existem milhares, bilhares de paixões. Mas, não importa se você acha errado o garoto de rua ou o presidente da república: eles são apenas instrumentos carmáticos, instrumentos para gerar a compreensão fundamentada na possessão moral (eu sei), ou seja, paixões criadas por Deus.
É assim que se ‘escreve’ o livro da vida. O espírito escolhe o gênero de provas (as possessões) que quer executar e Deus, ao longo da vida, vai criando paixões para que a provação possa acontecer.
Esta é a realidade que todo ser humanizado deve viver: tudo aquilo que ele compreende é um carma onde está configurado um gênero de provas (possessão) que é exercido através de uma paixão criada por Deus.
E é por isso que Cristo fala tanto em não julgar, em não criticar. Tire a trave do seu olho, porque você ao criticar alguém está cedendo a um carma de posse moral e, com isso, extravasando o seu egoísmo…
Saiba que você ao gostar ou não de alguém está exercendo determinada paixão oriunda de um carma de prova sentimental. Com isso deixou de amar universalmente aquela pessoa, pois preferiu o sentimento baseado no seu egoísmo…
É isso o que vocês chamam de vida ou raciocínio. A cada micro fração de tempo, Deus através do ego vai gerando os seus carmas e o faz usando outros elementos que estão vivendo o carma deles.
Aquele que você compreende que está errado, quando participa da sua ação carmática, também tem uma compreensão individualizada: isso é o carma dele. Você, quando assiste o que ele faz, tem uma compreensão e ela é o seu carma.
Este é o mundo. Esta é a vida.
Os carmas vão se sucedendo e quando você pensa que está se relacionando com alguém, na verdade, está se relacionando com Deus, vivendo seus carmas.
Isso é a vida.
Participante: Então, tudo isso que estamos presenciando aqui é um carma, se fosse compreendido como uma conscientização. Mas, como é uma informação para acabar as nossas conscientizações este ensinamento não é um carma?
Não, o ensinamento não é um carma, mas um instrumento dele. Ele poderá gerar um carma se você transformá-lo em consciência, verdade…
Já cansei de dizer: você não deve acreditar em nada, mesmo no que eu digo. Se você acreditar no que eu digo, um dia terá que se libertar desta consciência, pois mesmo a crença no que digo ainda é um carma.
Agora, se mesmo com tudo isso que está ouvindo aqui ainda criar a conscientização de que tudo o que falo é uma verdade ou realidade, saiba que este novo carma é mais universalizado ou espiritualizado. Ele não deixa de ser uma ação egoística, mas menos individualista. Isto porque é um carma que lhe ensina a amar universal e indiscriminadamente.
Por hora, acreditando no que eu digo como ‘certo’, ainda irá querer que todos pensem como você. No entanto, quando alcançar a plenitude do amor (não tiver mais nenhum ‘certo’ ou ‘errado’) não exigirá que os outros pensem como você. Neste momento extingui-se a sua posse sentimental ou moral.
Mas, isto é realização e não caminho. Por enquanto você, como caminhada, ainda precisa ter uma compreensão: não deve acreditar nas compreensões que estão lhe surgindo agora.
Vamos continuar nos aprofundando nos elementos do carma? Vimos que ele está submetido a um gênero de egoísmo (posses) e que se expressa por múltiplas paixões. Mas falta ainda um elemento a ser conhecido, pois das paixões nascem os desejos.
Se um ser humanizado tem uma paixão, certamente também terá desejos, pois eles são formados a partir delas. Mas, o que são estes desejos?
· a vontade de ganhar e a de não perder o objeto da paixão;
· a vontade de ter prazer e a de não ter desprazer a partir da vivência com o objeto da paixão;
· a vontade de ser considerado ‘certo’ (ter fama) e a de não ser considerado errado (infâmia) por causa da paixão,
· a vontade de ser elogiado (reconhecido) e a vontade de não ser criticado por causa da sua paixão.
Os desejos, portanto, estão vinculados às paixões e expressam ‘vontades’ que o ego dá ao ser humanizado a partir da conscientização da paixão.
Com este componente (os desejos) conhecemos agora todos os elementos de uma compreensão racional. Sempre que um ser humanizado tem uma compreensão racional (um raciocínio), ela inicia-se no ‘eu’, está presa a um quer, gostar ou saber. As paixões são expressadas na conscientização através de algum elemento (pessoas, objetos ou conhecimentos), que são as paixões e tem embutido em si sempre um desejo, uma vontade, com relação a este elemento.
Isto é, dentro de uma visão completa, o seu carma…
O seu carma é um raciocínio que diz:
· Este carro é meu e quero que ele fique inteiro;
· Esta casa é minha e quero que ela seja arrumada desse jeito;
· Este filho é meu e quero que ele seja criado assim;
· Este amigo é meu e eu quero que ele aja assim;
· Sobre este assunto eu sei e quero que o meu conhecimento sobre ele seja verdade.
Estas são algumas construções que o ego do ser humanizado faz a cada conscientização. Nelas estão presentes o egoísmo (a ação do ‘eu), as posses (morais, sentimentais e dos objetos), as paixões (os elementos de cada uma) e os desejos que se vinculam ao querer estar certo, ter prazer, alcançar a fama e receber elogios.
Estas conscientizações ou carmas, como já afirmamos, geram as provações que o espírito humanizado pede para passar para provar a si mesmo o quanto aprendeu ainda na erraticidade. Compreender isto é fundamental para aquele que pretende promover a reforma íntima, pois assim ele vivenciará as compreensões como provas e não como realidades.
Mas, como aproveitar esta oportunidade (ter uma compreensão racional) para realizar a provação a contento? Tendo a consciência de que tudo que lhe vem à mente é um carma. Quando o ser humanizado compreender que tudo que ele conhece pelo raciocínio não é Real porque se trata apenas de uma interpretação individual fruto do seu egoísmo, poderá, então, viver universalmente.
Se perguntasse agora se tinham entendido o que quis dizer desde o início de nossa conversa, com certeza muitos me responderiam: agora entendi o que você quer dizer. Mas, quem disser isso não entendeu nada, pois o que teve foi uma compreensão racional, ou seja, uma nova interpretação individualizada fundamentada no seu egoísmo através da posse moral (‘eu sei’).
Não é assim que se vence a prova. O carma não pode ser superado por uma compreensão racional, pois esta seria um novo carma. Para que o ser humanizado aproveite a ação carmática (a compreensão que tem) é preciso, primeiramente, que ele compreenda que o que lhe é dito pelo ego não é real, mas apenas uma proposição de novo carma.
Ou seja, para se vencer o carma é preciso, primeiramente, que o ser humanizado conscientize-se que não pode compreender nada do que é dito pelo ego. Ele precisa ter na consciência apenas a certeza de que precisa compreender que nada deve ser compreendido.
Vindo à sua mente, por exemplo, a consciência de que tal pessoa é mal educada, compreenda que você não pode aceitar tal propositura como realidade. Aquela pessoa não é mal educada: esta informação é apenas o seu carma e você, que busca a elevação espiritual e compreende isso, precisa se libertar dessa paixão.
Este é o trabalho de quem quer eliminar os seus carmas: não acreditar nas consciências que Deus forma através do ego para sua provação. Para isso é preciso saber que tudo que lhe vem à mente é um carma, um reflexo de um pedido do espírito quando ainda na erraticidade (a provação da superação do egoísmo expresso através da posse moral – saber a verdade).
Aí está a realidade final sobre o carma: tudo que lhe vêm a mente refere-se a um pedido seu feito antes da encarnação para provar que se libertou do egoísmo ou porque esta é a personalidade com a qual você encarnou para cumprir uma missão.
Até aqui já falei mais de uma vez que o carma está presente quer na missão ou na provação, sem me explicar muito. Vou falar um pouco agora disso…
Na verdade, através das percepções do ser humanizado é impossível saber se cada um está em provação ou missão. Isto porque, tanto um quanto o outro possui um ego que lhe determina verdades. A diferença está na elevação espiritual que cada um já alcançou ao longo da existência eterna do espírito, mas este fator não pode ser conhecido pelas percepções humanas.
Provação é para aquele espírito que precisa realizar ainda algo para evoluir dentro do mundo em que vive; missão é uma existência carnal de espíritos que já alcançaram o máximo de evolução espiritual deste mundo, mas permanecem ligados a ele (preso à roda de encarnações) para ajudar o próximo.
Tanto um quanto outro, como disse, será guiado por um ego e ele, acionado por Deus, criará elementos que ratifiquem externamente uma compreensão racional. Não existe diferença entre o ego de um missionário e o de um espírito em missão. Isto porque se o missionário fosse sempre um ‘santo’ não serviria como elemento criador das provações dos outros.
Sendo assim, o ego do espírito missionário precisa criar imaginações nem sempre ditas como ‘corretas’. Por exemplo: o ego de um missionário pode dizer ao espírito que ele não gosta de determinada pessoa. Fará isso com a intenção de ‘justificar’ (criar a ilusão da racionalidade) as ações que aquele ser, agora humanizado, precisa praticar para auxiliar a prova dos outros.
Portanto o não gostar de alguém (ter esta compreensão racional) não significa baixo índice de elevação espiritual, mas apenas um carma necessário para uma missão. Sendo assim, se você não gosta de alguém pode ser que seja porque tem a missão de não gostar dela. Não se lamente por isso, diga a si mesmo apenas: não gosto, e daí…
O ato de ter a compreensão de não gostar, é sempre seu carma, seja você missionário ou espírito em provação. Portanto, não tem nada que sofrer com esta construção mental ou acusar-se dizendo que não passou na prova porque teve esta idéia sobre o outro.
Deixe o ego continuar gerando a compreensão de que você não gosta dela, mas não acredite nela. Diga para si mesmo: gostar ou não gostar é apenas uma impressão que o ego está me dando… eu não sei se gosto ou não…
É assim que se liberta do carma: tendo a consciência que a criação racional do ego não é uma verdade nem uma realidade - é simplesmente um carma…
Promover a reforma íntima é exatamente isso: saber que a compreensão que é alcançada a cada momento da existência carnal é um carma e é exatamente assim porque, antes da encarnação, você, o espírito, pediu para agir, como missão ou provação, dentro de determinada posse gerada pelo egoísmo. Então, a compreensão racional de agora é a conseqüência (efeito) de uma causa: o pedido feito em um momento anterior para vivenciar uma missão ou provação.
Não importa se você está aqui por provas ou por missões: tudo o que se conscientiza é aquilo que veio a esta existência para se libertar. Se libertar não no sentido de deixar de ser, mas no sentido de compreender que tudo que você acha não é real, mas apenas um carma.
Só para completar esta parte do estudo, quero dizer uma coisa: estou falando em tudo…
Não estou dizendo que algumas compreensões racionais são carmas; estou dizendo todas as compreensões racionais são carmas. E mais: estou dizendo que todas as compreensões racionais que você tem sobre qualquer assunto estão fundamentadas no egoísmo, nas possessões, nas paixões e nos desejos.
Todas as compreensões, desde a necessidade de ir ao banheiro até aquelas que são alcançadas com o estudo de temas considerados profundos, tudo está fundamentado nos quatro elementos que vimos aqui (egoísmo, posse, paixão e desejo) e que todos os mestres nos ensinaram que não se deve ter.
Agora posso, então, responder para quem me perguntou anteriormente como vencer o carma: reconheça que o que você pensa não é ‘certo’, que o que sente não é ‘bom’, que o que tem não é seu… Compreenda que tudo isso que sente e acha faz parte do seu carma. A partir desta compreensão poderá agir com equanimidade[5] com os elementos do mundo carnal e não será mais guiado pelas posses, paixões e desejos que interferem no seu estado de espírito.
Se fizer isso lhe garanto que sai desta carne muito bem.
Participante: A solução para o carma está no próprio carma então? Digo isso porque compreendi que a solução para o carma é conscientizar-me que não devo me conscientizar de nada.
No atual estágio de evolução sim. Isto porque esta consciência não é egoísta. Agora cuidado: ela pode transformar-se também numa posse…
Se você transformar esta consciência numa verdade e por causa dela aceitar o pensamento de que deve ensiná-la aos outros, ou seja, dizer como eles devem vencer seus carmas, terá criado uma nova possessão moral.
Falei que isto é o trabalho para este estágio de evolução. Agora, a partir do próximo mundo de encarnações, que será o de regeneração virão novos elementos e aí novos trabalhos surgirão. Mas, voltaremos a conversar sobre isso daqui a uns dois ou três mil anos.
Participante: Então, para se promover a reforma íntima e alcançar a elevação espiritual devemos viver negando os pensamentos e sentimentos?
Não falei em negar…
Negar é uma atitude oriunda de uma compreensão racional e, portanto, uma posse. Para se promover a reforma íntima é preciso que o ser humanizado aprenda a conviver com os pensamentos e sentimentos (sensações) geradas pelo ego sem deixá-los influenciar, dirigir a existência do deste espírito, ou seja, transformarem-se em verdades.
Não é negar sistematicamente: não é isso… É não acreditar: não sei…
Não negue a compreensão que diz, por exemplo, que a casa é sua não negue isso. Viva com o ego dizendo que ela sua, mas, interiormente, não acredite nisso. Não tenha este sentimento por dentro. Não sinta a casa como sua, apesar do ego dizer que ela é sua.
Pense e sinta somente que você não sabe de quem é a casa…
Foi o que respondi anteriormente. Falar, você falará o que for preciso para compor os carmas seu e dos outros, mas, por dentro, não deve sentir que a casa é sua propriedade.
[1] Utiliza-se neste texto o termo ser humanizado para designar o ser universal encarnado, vivendo a vida material. Isto porque, para os amigos espirituais, o que caracteriza este estágio da existência eterna do espírito não é a carne em si, mas a ligação a um ego humano que determina a humanização do ser universal.
[2] ‘Livro da vida’ foi um termo utilizado anteriormente pelo amigo espiritual para descrever o conjunto de acontecimentos pré-determinados antes da encarnação para a existência corporal.
[3] Ação carmática – ato ou ação de ter uma compreensão sobre um acontecimento.
[4] Na palestra onde o amigo espiritual falou do ego (‘Conhece a ti mesmo’) foi dito que tudo aquilo que o ser vive quando humanizado é criação desta personalidade transitória à qual está ligado e não Realidade.
[5] Agir com equanimidade – participar dos acontecimentos do mundo criados a partir das compreensões racionais sem alterar o estado emocional. Na prática: viver em paz, harmonia e felicidade incondicionais, sem se deixar levar quer pelo prazer ou pela dor.
Explicando o trabalhoAgora que já vimos o que é carma e como ele acontece quando o ser está humanizado, vamos entender como operaremos no estudo dos carmas humanos. Para tanto, darei um exemplo: maternidade.
A maternidade é uma compreensão racional, ou seja, o espírito humanizado acha que é mãe. Como eu disse, essa compreensão racional é um carma e esse carma gera uma prova. Mas, para entender bem a prova da maternidade é preciso sabermos que tipo de possessão está em jogo e que tipo de paixões e desejos ela gera. Só aí podemos saber no que não acreditar, ou seja, como vencer o carma.
A maternidade vive a posse sentimental: é meu filho. A partir do momento que o ser humanizado se conscientiza da posse, deve compreender que toda vez que lhe vier à mente a idéia ‘é meu filho’, deve não acreditar nisso. Ou seja, para vencer o seu carma, o ser humanizado precisa não acreditar que aquele ser humanizado seja seu filho.
Não se trata de negar que ele seja seu filho, pura e simplesmente, já que o ego sempre o tratará desta forma, mas sim a maternidade (posse sentimental) sobre outro ser. Isto porque a partir do momento que o ser não se submeta aos valores da maternidade estará silenciando a paixão e ao silenciá-la, estará silenciando, também, os desejos oriundos delas. Com esta atividade se elimina o carma da posse sentimental ao filho.
Portanto, este é o trabalho para o qual o ser encarnou-se: a luta constante contra o ego. Compreender o carma sabendo em que paixões, posses e desejos ele está fundamentado para, de posse desta informação resolver aquele determinado aspecto da universalização ou elevação espiritual.
E este será o trabalho que faremos daqui para frente nesta obra. Iremos analisar as diversas compreensões da vida que vêm à mente do ser encarnado para que possamos descobrir que posse está sendo expressada através daquela paixão e de que desejos o ser humanizado precisa se libertar, porque aí ele conseguirá a reforma íntima.
Isto é o que eu gostaria de fazer com vocês durante este trabalho: Analisar as compreensões humanas para entender o carma de cada um através das suas crenças.
Por exemplo: prostituição. Considerar-se uma prostitua é uma compreensão e portanto é um carma. Então, achar-se ou achar que outra é uma prostituta é um carma. Que posse será que está envolvida nisso? Que paixões estão envolvidas nisso?
No entanto, quero deixar bem claro: este estudo não tem nada a ver com atos. Não vamos analisar as ações humanas em determinados momentos de sua existência, mas buscaremos compreender o que, internamente, está formando aquela consciência sobre o assunto.
É isso que pretendemos fazer neste trabalho: estudar as compreensões da vida e aos poucos descobrir os carmas e aprender a libertar-se deles.
Participante: O mesmo vale para a compreensão da morte (por exemplo: minha mãe morreu)?
Morrer é uma compreensão, então é um carma. Isto porque ninguém morre, já que não existe morte, mas libertação de uma consciência.
Portanto, compreender que houve uma morte é fruto de uma paixão, neste caso pela mãe vida da mãe. Nesta hipótese levanta por você existem diversas posses envolvidas e será com o objetivo de reconhecê-las para estancar as suas ações é que iremos conversar daqui para frente.
Mas, no entanto, saiba que o raciocínio de que a compreensão racional é um carma vale qualquer elemento criado através do pensamento.
EstudarParticipante: Como se gera carma quando nos conscientizamos de que dois mais dois é igual a quatro?
Boa pergunta, vamos começar nosso trabalho respondendo a sua pergunta, ou seja, vamos ver os carmas que acontecem quando o ser humanizado exerce na vida o papel de estudante.
Estudante é um papel que o espírito representa durante a encarnação. Se assim é, o ato de estudar e as compreensões advindas desta ação são carmas. Estudar é adquirir compreensões de determinadas verdades, que servirão, no transcorrer da existência carnal como provações.
Se há um carma e uma provação, portanto, é objeto deste nosso estudo e, aproveitando a sua pergunta, vamos começar por aí. Ou seja, vamos ver em que posses, paixões e desejos se fundamenta o carma daquele que estuda que dois mais dois é igual a quatro ou qualquer outro estudo durante a existência carnal.
Antes de mais nada me deixe dizer uma coisa: dois mais dois não é igual a quatro. Existem teorias matemáticas que comprovam, apesar de não saber, neste momento lhe dizer quais. No entanto, posso lhe dizer que a física moderna (quântica) eliminou as certezas e afirma hoje que tudo no Universo são apenas possibilidades. Portanto, mesmo cientificamente, posso lhe afirmar que dois mais dois têm uma possibilidade ser igual a quatro, mas não certamente será.
Mas, a teoria científica que você utiliza para estudar ou o que assunto está aprendendo não importa: o importante é compreender que se permitir que esta ação forme em você um conceito, uma verdade, uma certeza, ela se transformará em uma paixão vinculada a uma posse e que gerará desejos. Vou lhe dar um exemplo.
Na antiguidade os seres humanizados que estudavam medicina não conheciam moléculas, células e DNA. Ou seja, eles tinham um determinado conhecimento. Hoje os estudantes de medicina têm outro conhecimento. Se colocássemos aqueles em contato com estes, cada grupo iria querer defender o seu conhecimento, ou seja, aquilo que eles deixaram se estabilizar no ego como verdades.
Sei que estou falando de séculos atrás e que você diria que é impossível este contato, mas com a ‘velocidade’ do mundo de hoje será que isso é possível? Ou seja, se deixar estabelecer em você o que estuda neste momento como verdade, será que aceitará novas visões sobre o mesmo tema? Claro que não, porque o seu conhecimento virou uma paixão que espelha uma posse.
Esse raciocínio ou compreensão vale para qualquer campo do conhecimento que você adquira através dos estudos. Hoje você tem um determinado conhecer, mas amanhã, com certeza, novas realidades aparecerão que alargará os horizontes da antiga. Será que se você se apegar ao conhecimento atual aceitará esta evolução? Acho que não…
Portanto, o carma de estudar (as compreensões de estar estudando e dos assuntos que está ‘aprendendo’) não pode ser vivenciado com egoísmo, com a compreensão ‘eu sei’, ou seja, com posse moral. Para vivenciar este carma de forma universal, ou seja, libertar-se da ação carmática do aprendizado, no máximo deve entender o seguinte: ‘hoje eu compreendo dessa forma, amanha não sei a compreensão que terei’.
Isto porque se você conviver com o aprendizado como definitivo e as compreensões oriundas dele como ‘certas’, ou seja, tiver posse moral sobre elas, gerará uma paixão pelo seu conhecimento. Quando isto acontecer, com certeza chegará um dia em que alguém lira querer lhe provar que este conhecimento está errado. Neste momento, apegado às suas paixões e desejos você vai sofrer e, com isso, estará afastado de Deus.
Mas, pode acontecer o contrário. Alguém pode lhe escutar com muita atenção, concordar com os seus conhecimentos e lhe elogiar por isso. Neste momento, como vítima da ação do ego, você vivenciará o prazer de ter sido reconhecido, de ter sido elogiado, etc. Esta forma de reagir ao acontecimento também não o liberta do carma, pois também lhe distancia de Deus, já que está fundamentada no egoísmo.
Apenas a vivência da equanimidade – igualdade de ânimo em todas as situações – pode lhe aproximar de Deus. Nem o prazer nem a dor são elementos de elevação, pois eles se fundamentam no egoísmo - prazer, egoísmo contentado; dor, egoísmo descontentado.
Portanto, o espírito que encarna e que durante esta vida estuda, não importa o que seja, vive uma provação para o seu egoísmo através da posse moral do saber a verdade. Desta forma, a ação de estudar é um elemento para o espírito trabalhar o seu egoísmo. Para aproveitá-la e alcançar o objetivo da encarnação (elevação espiritual) é preciso vivenciar estes momentos com o seguinte pensamento: ‘ninguém sabe nada, só Deus sabe. Todos os outros seres do Universo têm noticias de algumas coisas, mas não sabem nada’.
Este é, portanto, o primeiro carma humano que estamos estudando: ser estudante. Nesta rápida análise aprendemos que o ser humanizado vive o papel de estudante, ou seja, vivencia durante a vida acontecimentos onde parece que está estudando, para que o seu carma do egoísmo, expresso através da posse moral, aconteça.
Desta forma, este acontecimento ocorre na encarnação para que o ser que já sabe que tudo é universal viva o estudar, ou seja, aparentemente tenha noticias sobre os elementos do mundo e tenha a oportunidade de libertar-se do seu egoísmo declarando-se incompetente para saber. Quem não aproveita esta oportunidade como instrumento da elevação espiritual vivencia os momentos de estudos fundamentado no egoísmo e aí declara “eu sei”.
Estudar, portanto, é um carma fundamentado na posse moral para que você, espírito, consiga provar a si mesmo que já compreendeu que a cultura, ou seja, o somatório do saber, o afasta de Deus porque é fundamentado no egoísmo. E é por isto que Cristo ensina: ‘louvado seja Deus que mostra aos simples o que não mostra aos sábios’.
A partir desta visão podemos dizer que quem não estuda (aquele analfabeto pobre coitado que não tem chance na vida) não é uma vítima da sociedade ou do governo. É apenas um espírito que não está vivendo, através deste papel, a prova para as suas posses morais. Ele apenas ou não precisa ou Deus não escolheu para que ele fizesse a sua provação de libertação das posses morais através desta ação (estudar).
Digo através deste papel, pois a posse moral (‘eu sei’) pode ser exercida de muitas outras formas do que simplesmente através do aprender. A posse moral se distingue pela crença do que você declara que sabe com certeza e não pelo conhecimento de alguns assuntos.
Por isso afirmo que existem espíritos que estão em provação de posse moral e nunca sentaram em um banco de escola… Ou vocês nunca viram muitos analfabetos sobre qualquer assunto que discutem um tema como se fossem catedráticos?
Participante: Se houver uma mudança de sentimentos sobre os papéis da vida, como por exemplo aqueles que temos por pai, mãe irmão para ‘amigo de jornada’ isto nos levará a gerar que tipo de carma? Falo em mudanças de sentimentos, pois o ego ainda verá os elementos em seus papéis originais, mas o sentimento será diferente.
O papel ‘amigo’ ainda tem embutido em si alguns aspectos carmáticos (posses). Portanto, não basta apenas trocar o nome ou o próprio sentimento: é preciso libertar-se da possessão. (do carma).
Quando você conseguir superar as posses sobre os papéis de pai, mãe, irmãos, avós, terá superado diversos carmas. Mas, se para isso você apenas trocou o nome da possessão, nada terá realizado.
É preciso se libertar de todas as posses e é por isso que, neste trabalho, quero conversar a respeito da maior parte dos papéis com os quais o ser humanizado se relaciona.
Participante: Quando a gente sabe qual é o nosso carma e em alguns momentos parece insuportável vivê-lo… O que fazer nestes momentos críticos?.
Saber que aquela situação, que é composta por percepções, pensamentos e emoções, é só um carma e não uma realidade.
Por exemplo: você acabou de passar por uma separação conjugal. Uma separação conjugal não é uma realidade (ninguém está se separando de ninguém), mas apenas um carma.
Na hora que este ser humano entender o que está envolvido neste carma, ou seja, que desejos, paixões e poses estão ativas naquele momento, poderá saber como trabalhar para libertar-se da dor ou do prazer. Isto porque este ser entenderá a prova, o carma.
Neste trabalho, vamos falar exatamente sobre isto: reconhecer o que está acontecendo na Realidade (compreender a provação e reconhecer seus elementos) para poder se afastar do maya (ilusão) – a idéia pensada que se tem sobre o acontecimento; neste caso a idéia de que está acontecendo uma separação.
Vamos falar de muitos temas, mas em cada um deles vamos buscar sempre saber o que realmente está acontecendo para poder se libertar daquilo que se acha que está ocorrendo. Foi o que fizemos agora a pouco: mostramos o que acontecia ao ser humanizado (uma provação de posse moral) ao mesmo tempo que ele imaginava estar estudando para aprender algo.
Outro exemplo do trabalho…Quando um ser humanizado vivencia uma situação onde alguém lhe diz que ele não sabe fazer de forma ‘certa’ alguma coisa, este espírito vivencia uma contrariedade e acusa o outro de ser o causador dela. Além de sentir-se mal numa situação desta, o ser humanizado ainda sofre mais, porque passa a nutrir ‘raiva’ ou ‘ressentimento’ pelo outro, pois, dentro da sua ilusão de ótica, o outro está agindo contra ele.
No momento que este ser entender que a situação que ele está vivendo nada mais é do que uma ação carmática, uma provação para a sua elevação espiritual, ao invés de acusar o outro ou sentir-se mal, irá buscar dentro de si mesmo que elementos (posses, paixões ou desejos) construíram a contrariedade. Reconhecendo-os, poderá, então, silenciar a sua ação e com isso não mais vivenciará a dor neste momento.
Pelo contrário, encontrará a paz que advêm da sensação do dever cumprido. Além disso, também não precisará ter ‘raiva’ ou ‘ressentimento’ contra o outro, porque não o entenderá como agente de uma contrariedade, mas um amigo que lhe mostrou um trabalho que precisava ser feito para honrar a encarnação.
Reconhecer a realidade (a provação que está acontecendo) fugindo do maya (a compreensão racional que o ego expressa através de percepções, pensamentos e emoções) ajuda o ser humanizado a compreender a ação necessária para libertar-se do carma. Enquanto isto não for realizado, ou seja, o ser humanizado vivenciar a realidade criada pelo ego humanizado que é formada por fatores humanos, jamais se libertará do carma.
Para fazer isso, como ensinou Buda, é preciso estar sempre atento (atenção plena) às suas formações mentais ao invés de conectar-se apenas no mundo exterior (o que é percebido pelos órgãos do sentido). Isto porque o ego não dirá a este ser que o que está ocorrendo na realidade é um carma e não um fato. O ego não deixa o ser entender que o acontecimento é uma ação carmática para poder ficar instigando-o a sofrer ou sentir prazer.
Por isso, neste trabalho, vamos descobrir quais posses, paixões e desejos estão envolvidos em diversos carmas, ou seja por que facetas o egoísmo impera para desacreditar a Realidade. Com isto estaremos buscando compreender o que cada ser está vivendo naquele momento e veremos, ainda, com que consciência (compreensão racional) cada um deve vivenciar os momentos de sua existência.
Por exemplo. Dissemos que estudar não é estudar, mas sim viver um carma. A partir do momento que alcança esta compreensão, o ser humanizado continuará indo a escola e participando das aulas. Apesar disso, ele não deixará o seu egoísmo dominá-lo naquele momento gerando a compreensão ‘eu sei’. Pelo contrário, quando isto acontecer ele responderá ao ego: ‘engano seu, eu apenas tive notícias…’
Desta forma a possessão não existirá, porque este ser não deixou o egoísmo dominá-lo… Com isso venceu seu carma.
Lembram o que falamos no primeiro capítulo? O resultado da ação do egoísmo é uma posse; a posse dá origem a diversas paixões, e estas levam aos múltiplos desejos… Mas, qual o resultado de um desejo? Viver no ciclo do prazer e da dor (quando o desejo se realiza é um prazer e quando não se realiza, é o sofrimento).
Quando se compreende o acontecimento como ação carmática, se reconhece o carma e liberta-se da ação egoística embutida na compreensão recebida do ego naquele momento, se extingui o dualismo do prazer e da dor e com isto se alcança a equanimidade, que é a bem-aventurança que Cristo ensinou.
Participante: Mas parece que quando nos sentimos bem, vem o ego e começa a brigar com os nossos pensamentos.
Sim, o ego não aceita a derrota facilmente. Lembre-se do que ensina o espiritismo: são tantos milênios de encarnações agindo egoisticamente que não será apenas porque numa vez libertou-se desta forma de agir que tudo ficará a mil maravilhas…
CasamentoVamos falar agora de um novo tema: casamento.
O que é um casamento, ou melhor, o que deveria ser um casamento? Uma união. O casamento, em tese, deveria prever a união de dois seres para formarem uma vida em comum. Ou seja, podemos definir casamento como a união de duas personalidades com o objetivo de formar uma terceira personalidade (o casal), que seria a perfeita fusão das outras duas.
Este seria o ideal do casamento. Mas, porque ninguém vive assim? Porque o casamento é um carma. O casamento não é uma união sentimental, mas ação carmática e como tal é uma união onde o egoísmo de cada um dos cônjuges será testado. Mas será testado como e através do que?
Pela posse sentimental: ‘é meu’ marido ou mulher; ‘eu amo’ este homem ou esta mulher. Esta é a compreensão gerada pelo ego através da consciência que caracteriza a posse.
Digo isso, porque o amor que vocês cultuam na Terra, na verdade é uma possessão. Isto ocorre porque quem ama neste planeta, faz exigências para amar. O ser humanizado não ama simplesmente, mas ama quando, por que, para que, etc. Ou seja, diz que ama o próximo, mas vivencia este amor com egoísmo, pensando primeiro nele mesmo (buscando primariamente satisfazer os seus desejos individuais).
Vamos ver um exemplo desta forma de amar condicionada: a separação. Muitos dizem que amam outros profundamente, mas mesmo assim, em determinado momento, acabam se vendo separados do outro mesmo contra a vontade…Quando isto ocorre, tempos depois, afirmam que deixaram de amar…
Isto é possível? Será que o amor verdadeiro pode acabar porque o ser amado não está mais perto ou por qualquer coisa que ele tenha feito? Claro que não… O amor verdadeiro é eterno…
Quem ama verdadeiramente não precisa da posse do outro, nem cria obrigações e deveres para ele… O amor verdadeiro existe e sempre continuará existindo, sem deixar espaços a mágoas ou ressentimentos, quando a pessoa amada está ao lado ou não e existe eternamente sem exigências, sem condicionamento, inclusive de ser amado… O amor real não leva a apropriação do próximo fazendo exigências para existir…
Um dos elementos que caracteriza a possessão no amor é o ciúme. O ciúme é o resultado da possessão sentimental em ação. ‘Ele é meu marido, como então vai olhar pra outra? Ela é minha mulher, como pode ter amigos’?
A partir destas constatações, podemos, então, afirmar: quem é traído ou não tem os seus desejos satisfeitos pelo seu cônjuge, está em provação parta provar a si mesmo que se libertou da possessão sentimental. Mas, quem tem um cônjuge que atende aos seus menores desejos, também o está. Isto porque o resultado de uma ou outra ação carmática é a dor ou o prazer.
Estas compreensões - ‘ele não liga pra mim’ ou ‘ele é um excelente parceiro’ – estão sendo criadas pelo ego justamente para que este ser vivencie o seu carma, ou seja, para que possa abrir mão do seu egoísmo (querer ser atendido pelos outros). Apenas quando os dois abrem mão do seu egoísmo e aceitam que o outro deve ser livre para viver sem necessariamente ter que estar atrelado aos desejos e caprichos do outro, o amor verdadeiro existirá.
Este é o primeiro detalhe no casamento que queria abordar: todo espírito que vive a ilusão ou maya de estar casado com outro, está vivendo uma prova para seu egoísmo através ação carmática fundamentada na posse sentimental.
Sabedor disso, o ser humanizado deve trabalhar para libertar-se das verdades e das exigências que o ego cria para o relacionamento amoroso entre os dois. Ou seja, combater a personalidade temporária com o seguinte contra argumento: não ego, não é ele (ou ela) que não liga pra mim. Isto é um momento que Deus está me dando como oportunidade para não possuí-lo’.
Com este tipo de contra argumentação o espírito dominará a ação da posse e poderá dar ao outro o direito de ser, estar e fazer o que quiser, já que este direito é garantido por Deus a cada um. Para que o amor real exista entre dois seres é preciso que um dê ao outro o direito de viver a relação amorosa do jeito que ele quiser, mesmo que para isso seja obrigado a abrir mão de suas vontades – o que é o trabalho do despossuir ensinado pelos mestres - e não obrigá-lo a vivenciar a relação amorosa do jeito que um quer.
Acho que estamos perdendo tempo conversando sobre isso, porque ninguém vive este problema. Todo mundo é muito bem casado e o marido e a mulher se correspondem à altura, certo? Claro que não. Este é um dos grandes carmas do planeta
Quem se junta, com ou sem aliança, cria um casal, precisa ter isto em mente: ‘eu não estou casando mas criando um carma para mim. Estou vivenciando uma situação onde a posse sentimental será testada’.
Como disse, este é o primeiro aspecto do carma casamento que queria abordar. Existe outro…
Participante: E a traição, o que você diz disto?
Vamos falar disto mais tarde já que isto também é uma ação carmática.
Para o tema casamento, digo apenas que a traição é um dos elementos, como o ciúme também o é, para o teste sobre a posse sentimental. No casamento, sentir-se traído não é um ato - ele (ou ela) está com outro (ou outra) – mas sim uma prova para a posse sentimental.
Digo isso porque, se você ama de verdade, este amor não consegue conviver com a traição. Cristo que o diga… Ele nunca se sentiu traído por Judas, pelos judeus ou por qualquer outra pessoa…
Mas, como disse, traição é um outro carma que pretendo estudar depois. Por agora apenas afirmo que a ilusão da traição no casamento é um teste carmática da prova da posse sentimental de um sobre o outro.
Participante; E como se liberta disto?
Sabendo que aquilo e só um carma e não uma realidade… Você acha que você e o cônjuge existem, que o/a amante existe, que o casamento é o ato da traição é real, mas tudo isso não passa de maya: criações do seu ego para gerar a provação do espírito.
Por isso você deve conscientizar-se de que o que está vivenciando não é a uma realidade de uma traição, mas uma provação para você poder demonstrar a si mesmo que venceu o possuir…
Na verdade não há um casamento, mas um maya vivenciado com posse. E, se isso é verdade, o ser humanizado não deve trabalhar o casamento (tentar melhorá-lo), mas sim lidar junto à sua possessão.
Mas, como se libertar da possessão? Sabendo que ela é fruto do egoísmo, é uma ação egoística. Quem possui sentimentalmente o outro, dá asas ao seu egoísmo e com isso deixa de cumprir um dos mandamentos ensinados por Cristo: amar a tudo e a todos. Isto porque o egoísta quer sempre para si.
Portanto toda esta historia que está sendo criada pelo seu ego é ilusão: você não está sendo traído mas sim egoísta, porque quer a atenção e o carinho daquele outro ser só para você… Liberte-se desta posse contra argumentando com o ego: ‘não vou entrar nessa; não vou acreditar em traição; não vou acreditar que ele (ou ela) não me ama mais’.
Diga mais: ‘se estou junto, vou viver junto, mas, se a vida (roda do carma) nos separar, viverei separado’. Além do mais, não importa o que esteja acontecendo não deixe o amor eterno ser trocado por ressentimentos, críticas ou acusações, porque, afinal de contas, a ação carmática que você está vivendo agora é o resultado da sua escolha, enquanto de posse da consciência espiritual, antes da encarnação, como já vimos.
Não aceite as historinhas que o ego cria… Com isso estará livre da dor e do prazer e terá atingido a equanimidade necessária para aproximar-se de Deus.
Participante: E aquela historia de prometer amar e ser fiel no amor, na dor, na pobreza e na riqueza . Papo furado? Onde fica a fidelidade?
Onde existe esta história de ter ser fiel na dor e na alegria, na pobreza ou riqueza? Onde existe esta história de indissolubilidade do casamento?
Não sei, pergunte a igreja católica, pois foi ela que institui isso… Cristo e os apóstolos nunca disseram isso…
Não há, na Bíblia, referência a esta união eterna que o cristianismo prega. Pelo contrario, tem a historia onde os professores da lei querem pegar Cristo em contradição, mas, claro, não conseguem.
É a seguinte a história citada pelo amigo espiritual:
Mestre, Moisés escreveu para nós a seguinte lei: se um homem morrer e deixar a esposa sem filhos, o irmão dele deve casar com a viúva para terem filhos, que serão considerados filhos do irmão que morreu.
Acontece que havia sete irmãos. O mais velho casou e morreu sem deixar filhos. O segundo casou com a viúva e morreu sem deixar filhos. Aconteceu a mesma coisa com o terceiro. Afinal, os sete irmãos casaram com a mesma mulher e morreram sem deixar filhos. Depois de todos eles, a mulher também morreu.
Portanto, no dia da ressurreição, quando todos os mortos tornarem a viver, de qual dos sete a mulher vai ser esposa? Pois todos eles casaram com ela!
Jesus respondeu:
Como vocês estão enganados! E sabem por quê? É porque não conhecem as Escrituras nem o poder de Deus. Pois, quando os mortos ressuscitarem, serão como anjos e ninguém casará…
(Marcos 12,19-27)
O Cristo garante aos professores da lei que no ‘céu’ (reino espiritual) não há individualismo, posse individualista (é meu marido), todos convivem com todos. Quem criou esta posse materialista foi o ser humanizado. Quem criou a máxima ‘o que Deus uniu o homem não separa’ foi o ego religioso cristão… Aliás o próprio apóstolo Paulo diz: ‘é bom que o homem não se case…’ (Coríntios1 7, 1)
Participante: Mas, e quando a gente se propõe fidelidade, não pela igreja, mas pelo nosso intimo?
É a questão da posse, da paixão e do desejo novamente…
Você se propôs à fidelidade, ou seja, criou esta paixão e tem o desejo de ser correspondida nela, mas o outro não se propôs. E daí?
Se você quer ser fiel, seja, mas não pode exigir a fidelidade do próximo. Mesmo porque ninguém é fiel ou infiel, pois como já vimos, cada um cumpre uma ação carmática pré-escrita e pedida pelo outro.
Se nesta ação carmática pedida por você aquele tiver que interpretar o papel através de uma cena de traição, vai passar, querendo ou não, pois é o que você precisa e, se ele está junto de você, é sinal que ambos se comprometeram a ajudar o outro a libertar-se de seu egoísmo. Portanto, a questão de você querer se propor ser fiel e exigir do outro a mesma coisa, é uma posse sentimental. Você está exigindo do outro o que você quer, e isto é egoísmo.
Como disse, amar é amar e se um ser humanizado ama o outro, deve fazê-lo sendo fiel ou infiel. Mas, quando este ser se deixa levar pelo egoísmo, ou seja, se ama o outro somente se ele fizer o que você quer, ou seja ser fiel como você quer ser, que amor é esse? Amor que acaba no seu primeiro desejo não satisfeito? Isto não é amor, é posse.
Participante: Qual o significado do casamento?
Uma ação carmática. Casamento é um maya, uma ilusão.
Todo elemento que é compreendido pela razão humana é uma ilusão. E as ilusões são criações do ego para que você possa vivenciar seus carmas (provações).
Casamento, então, é isso e a razão de casar-se é vivenciar suas provas. E, a primeira delas que falamos é com relação à posse sentimental. Mas há outra possessão envolvida no casamento: a posse moral, o saber (‘eu sei’).
Esta provação aparece durante o casamento pelas divergências entre os cônjuges: introvertido/extrovertido, calmo/nervoso, arrumado/desorganizado, comum/excêntrico, etc. Os cônjuges diferem no seu temperamento e/ou nos seus desejos com a intenção de criar aos espíritos envolvidos provas para o desapego de suas próprias verdades expressadas através de desejos.
Um exemplo clássico: a mulher exigir que o marido se ‘arrume’, ou seja, que ele esteja dentro dos padrões que ela considera ‘arrumado’, ou vice-versa. Isto é uma posse moral, porque é fruto de um saber individualizado.
Porque o marido não pode vestir-se para sair com a mulher com chinelo de dedo? Fica feio. Fica feio por quê? Porque ela acha que ele deveria estar de sapato.
A mulher que quer o marido de sapato esquece de perguntar se o sapato aperta. Para ela não interessa isso: o que importa é o que ela quer. E apenas por causa disso, ela imagina que ele é obrigado a fazer. Ela não está se importando com o bem-estar dos dois: somente com o dela.
Esta é a prova de desapegado das verdades morais que está embutida no casamento.
Dizem que os opostos se atraem: isso é verdade… Mas não se atraem por acaso, por uma lei da natureza ou coisas deste gênero: se atraem para cumprir o acordo pré-firmado antes da encarnação para que possa existir um carma de posse moral.
‘Hoje você não vai ver futebol porque eu não agüento mais ver’. Esta não é uma reclamação de uma esposa comum: é uma ação carmática… Mas, o marido assistir futebol também não é um ato, mas um carma, já que não existem as pessoas envolvidas, os aparelhos que geram as imagens nem o próprio ato de ver. Tudo isso é criação do ego e, portanto, é uma ilusão…
Toda vivencia de uma situação é ação carmática. Neste caso para ver se os espíritos que estão ligados àquelas personalidades temporárias (marido/mulher) libertam-se de seu egoísmo que é expresso pela intenção de ditar as regras e normas de comportamento do casal.
Quando se ama de verdade ocorre uma fusão entre as personalidades que compõem o casal e os dois passam a ter o mesmo gosto. Quando isto não é possível, os dois convivem em liberdade absoluta, ou seja, um respeita o direito do outro.
‘Você quer ver futebol? Eu vou fazer outra coisa’. ‘Você hoje quer sair de chinelo de dedo? Que bom’. ‘Você hoje não arrumou a casa’? Que bom’. Este é o resultado vivenciado por aqueles que vivem um casamento pleno, ou seja, quando um pensa no outro, mesmo que o outro não pense nele.
Mas, hoje em dia não é assim… Um está sempre querendo impor as suas regras ao outro. Mas, isto não acontece por acaso, nem está errado ser deste jeito…
Ninguém impõe regras ao outro por acaso. Cada vez que alguém vivencia uma ação deste tipo está servindo de agente carmática para a provação do outro. Ou seja, esta criando uma ilusão, uma realidade ilusória para servir de prova moral para o outro.
Portanto, nem o marido, nem a mulher são chatos, birrentos, etc. Eles são instrumentos de Deus para criar a prova do outro. Apenas isso…
Desta forma, estas são as duas provações embutidas na ilusão do matrimônio: o espírito passar por provas à sua posse sentimental e à posse moral.
Justamente porque o casamento é uma ação carmática e não uma união entre dois seres é que cada um se comporta do seu jeito – preso às suas verdades – mesmo que muitas vezes esta forma de agir seja contrária ao que o outro quer. Se a ação de um cônjuge não fosse contraria aos desejos do outro, nunca haveria a possibilidade deste espírito libertar-se do egoísmo: do seu querer individual.
Se você está passando por uma situação destas, ou se conhece alguém que está passando e quer ajudá-lo, a primeira coisa que precisa fazer é compreender que ninguém está indo contra o outro, mas apenas gerando uma oportunidade para que o outro se livre do seu egoísmo e doe a razão. Para isso é preciso compreender que ninguém age de livre vontade, mas as suas ilusórias ações são sempre criadas por Deus de tal forma que a provação do outro aconteça.
Compreendendo estes dois aspectos, você pode trabalhar ao vivenciar o seu carma (superar os apegos às posses, paixões e desejos) e aí, sem possessão dar ao próximo o direito de ser, estar e fazer o que quiser. Além do mais você também ‘ganhará’, pois poderá sentir-se no direito de ser, estar e de fazer o que quiser sem culpas. É você vivendo na equanimidade: sem sofrimento e prazer.
Mas para isso precisa dar a Deus o é Dele… Entregue todo o comando do destino (da solução de continuidade dos acontecimentos) na mão do Pai e não mais reconheça vítimas ou culpados, covardes ou herói, bons ou maus… Veja a todos como instrumento do carma do outro, como agentes carmáticos designados para cumprir a sua parte na obra da criação.
Isto é bem viver uma ação carmática. E a necessidade desta tomada de posição interna (consciência) está embutida no aprender, no casamento, na fidelidade, na traição e em todos os acontecimentos de uma existência humana.
Enfim, assistir futebol e torcer para um time é um carma, vestir-se de um jeito e querer que o outro siga o seu padrão, é outro. Isto porque carma é toda compreensão racional que o ser humanizado tem durante a vivência de cada papel da vida.
Mas, você não é só agente do carma dos outros, mas também participante ativo dos seus. Por isso, a ação do outro não é uma ação feita por querer, mas realizada com a intenção de criar o seu carma. Não é uma ação para ferir, magoar, atacar, mas uma propositura da provação para que você tenha a oportunidade de provar a si mesmo o desapego e o universalismo que é contrário ao egoísmo que está embutido nas compreensões que o ego lhe dá.
Acho que agora ficou claro o ponto de vista espiritual sobre o que é casamento. E é exatamente por isso que se diz que o núcleo familiar é a prova mais importante para o espírito. É nele que estão os instrumentos carmáticos para as maiores provas de possessões.
Acho também, que neste segundo tema estudado ficou claro o que pretendemos fazer neste estudo: compreender, sobre o ponto de vista espiritual cada acontecimento da encarnação.
Compreender que ninguém estuda para aprender, mas a cada vez que se vai a uma aula está se passando por um carma que está fundamentado na posse moral. Que ninguém se casa, mas que todos os acontecimentos da união matrimonial são carmas fundamentados na posse moral e na posse sentimental.
Participante: E quando nos sentimos mal por ter ciúmes,é posse?
O ciúme é uma prova, mas a sua reação ao fato de ser ciumento também, também o é. Veja, prazer ou dor é o resultado de um desejo e onde há desejos há paixões, posses e egoísmo. Portanto, há algo que o espírito provar que já aprendeu que não vale a pena, espiritualmente falando, ter.
Você tem ciúme mas não gostaria de ter: isto é uma prova. Para deixar de sofrer porque é ciumento é preciso se lembrar que você não é ciumento, mas que o seu ciúme é um instrumento das ações carmáticas que o outro precisa vivenciar. Então, veja: você não é, está ciumento…
E está porque o seu ciúme é necessário para quem você convive. Portanto, sofrer a ação do ciúme é a provação do outro e você não pode deixar de tê-lo.
Compreenda, não é você que quer ter ciúmes, mas o outro é que precisa deste carma. Se não for você, alguém terá que fazer este papel… Uma coisa eu garanto: sem a provação pedida, por ele mesmo, antes da encarnação não vai ficar.
E não adianta me dizer que você é ciumenta, ou seja, já se relacionou e se relaciona com outras pessoas também vivenciando ciúme. Não importa, você não é ciumenta, mas sim um instrumento dessa provação para quem precisa dela… Por isso, não importa quem seja, quem estiver ao seu lado é porque precisa de você do jeito que é, precisa deste instrumento carmático.
Então tenha ciúme, mas além de não se culpar, não tenha prazer por ser do jeito que é. Não sofra, mas também não se vanglorie por ter ciúme.
O conhecimento da ação carmática não muda o ato, muda a forma de se interagir com o ato. Hoje você tem ciúme? Tem. O que é ter ciúme? É estar passando por uma prova. Se você responde a esta prova com o desejo de não tê-lo, sofrerá e não a executará com equanimidade. Se você responde a esta prova com a paixão em ser, terá prazer e, da mesma forma não terá alcançado a equanimidade.
Isto é para você. Para quem você está dedicando o ciúme é a prova dele. Neste caso, se alguém sente ciúmes e você não gosta de ser o alvo deste sentimento, tem que aprender a conviver com isso sem acusações, julgamentos, críticas ou qualquer outro sentimento de repreensão, já que o ciúme da pessoa é o instrumento do seu carma.
Participante: Nesse negocio de traição, não é melhor separar logo?
Não existe vida como vida, ou seja, não existe o desenrolar dos fatos como os seres humanizados querem: dentro de uma lógica racional. Os acontecimentos da vida são mayas, ilusões, geradas por Deus através do ego para que cada um viva a sua ação carmática. E, enquanto ela for necessária, continuará acontecendo, mesmo que o ego diga que deve fugir daquele tipo de acontecimento.
Por isso afirmo que casamento é uma ação carmática e separação é outra. A separação não tem nada a ver com casamento, ou melhor, não é resultante de um querer do espírito que está envolvido na união.
Ela é outra prova e só acontecerá se a roda do carma (destino) daqueles seres envolvidos contiver esta programação. Existem alguns seres que não possuem a previsão desta ação carmática e, por isso, vivem juntos até o fim da vida, com traição ou não. No entanto, têm outros que possuem a previsão desta ação carmática e se separam, muitas vezes sem motivos aparente.
Respondendo-lhe, então, não é a traição que causa a separação: o que vai ditar se a união perdura ou não é o carma dos envolvidos.
Estou aqui falando sobre uma nova forma de viver e me veio, por intuição, que um de vocês pensou o seguinte: ‘está ficando difícil de viver’. Não está, pelo contrário, esta ficando mais fácil.
Hoje, com a visão humana que você possui, para se viver um casamento, é preciso prestar atenção há uma gama infinita de detalhes. No entanto, se lermos com atenção o texto de nossa conversa, veremos que eu disse que para se bem viver um casamento é preciso prestar atenção apenas há três coisas (posses, paixões e desejos). Reconhecendo a ação destes três elementos e eliminando a submissão a eles, não haverá mais discórdia entre você e os demais seres humanizados.
Estou reduzindo a multiplicidade das situações que você vive hoje para apenas três: os tipos de provações baseados nas posses (moral, sentimental e de objetos). A partir do momento que você compreenda o que está em jogo como provação a cada acontecimento, não precisa se preocupar com as situações do casamento, do estudar, ou de qualquer outra atividade da existência carnal, pois não importa que história esteja sendo narrada pelo seu ego, você precisa apenas se libertar das possessões que está em cheque.
Desculpe a quem pensou isso, mas fica mais fácil viver.
Participante: Como fazemos para nos livrar dos pensamentos de ciúme, como ignorá-los?
Sabendo que ele não é seu e que não é verdadeiro. Eles são apenas instrumentos para testar sua possessão.
Veja, se o seu marido ou namorado não chegar hoje na hora prevista, o seu ego vai começar a lhe dizer: ‘vai ver que ele arrumou outra no caminho e foi primeiro para um motel e depois vem para cá’. Aí você precisa contra argumentar: ‘ego, que isso! Você vai contar historia da carochinha para mim? Tudo isto que você está montando na minha cabeça é simplesmente para ver se eu ajo egoisticamente aceitando esta idéia… Mas, se eu fizer isso, perco a minha oportunidade de realizar minha provação a contento’.
A partir daí não importa mais o que você fará. Se na hora que ele chegar você brigar, se queixar, reclamar, tudo bem: estará sendo instrumento carmático para a provação dele… Mas, apesar de tudo isso, por não acreditar na história contada pelo ego, você não vai sofrer até ele chegar. Mas, para isso é preciso que você vença o ego diversas vezes…
Ele irá criar a ilusão do passar da hora, da percepção da visão do relógio, da impaciência, além da idéia de que ele está com outra, que é criada através do pensamento. Para tudo isso você precisa ter uma resposta pronta que não deixe a idéia criada pelo ego fincar raízes na sua consciência.
As ações carmáticas são sempre embutidas uma na outra. O ego passeia entre elas criando historinhas para testá-la até que você o tenha vencido por completo. Quando você não vence uma, ela finca raízes e começa logo a dar frutos, ou seja, a sensação de realidade do que ele está criando aumenta.
Com isso ele passa a criar mais realidade e você, que até tentou lutar contra ele em um determinado momento, deixa de perceber que aquilo não é real mas uma situação carmática e acaba embarcando no sofrimento que ele cria.
Portanto, lute sempre e nunca baixe a sua guarda, pois deixar de ter o pensamento de ciumento (esperar que o ego para de produzir formações mentais neste sentido), você não pode deixar de ter, porque ele é o seu carma.
Participante: você não sabe como tenho pedido isto para Deus e para todos os que possam me ajudar…
Só tem um detalhe: Deus não pode lhe dar este conforto… Só você pode conseguir isto…
Você quer que o professor faça a prova para você? Não, isso não seria justo… Só usando o seu livre arbítrio (acreditar ou não no ego), pode alcançar esta paz que procura.
Portanto, pare de pedir e comece a agir.. Até porque, este pedir, como fruto de um raciocínio, também é ilusão do ego para ver se você aceita a idéia de sentar (não agir) e esperar alguém fazer, alguém vir de fora e dar.
Reaja, não deixe o ego lhe dominar.
FONTE:
http://projeto2012.wordpress.com/
Por Carmen Arabela às 04:42