ENCARNAÇÃO - A MAIOR AVENTURA DO ESPÍRITO - PARTE III
segunda-feira, 10 de novembro de 2008 « escrito por Carmen Arabela
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Vamos começar o estudo de hoje… Estamos falando sobre encarnação, que nós definimos como a grande aventura do espírito.
No primeiro dia, dissemos que encarnar não é vir à carne, mas ligar-se a uma consciência transitória diferente da real do espírito. Dissemos, ainda, que essa consciência é um conjunto de valores e verdades que geram a realidade ilusória que o espírito vivencia como real. OU seja, dissemos que enquanto ligado à consciência espiritual o ser universal vive uma realidade e depois que se liga à encarnação ou à consciência material ou ao ego, ele passa a viver outra realidade.
Depois conversamos sobre o ego. Dissemos que ele tem duas partes: a primeira é a técnica, aquela que cria a forma das coisas, ou seja, que dá forma da parede, da laranja, etc. Além da forma, a consciência transitória também cria na parte técnica o sabor, o cheiro e o som das coisas…
Sim, é o ego que cria o gosto da laranja. Na verdade a laranja é um acumulado de fluidos cósmicos universais que não possuem sabor ou odor… É o ego ou a consciência padronizada para a vida na Terra que faz o espírito vivenciar o fluido cósmico como uma laranja.
Sobre o ego dissemos mais: da parte técnica ele tem uma emocional. Definimos essas emoções geradas pela personalidade transitória como as sensações que o espírito sente quando ligado à carne ou ligado ao ego. Ou seja, afirmamos que é o ego que lhe diz que deve ficar triste, que você está com raiva, que está frustrado.
Este foi o resultado de nosso estudo sobre o ego: saber que ele é composto de duas partes. Uma que cria as formas das coisas e outra que diz com que emoção o espírito deve vivenciá-la…
Na verdade não dissemos que o espírito tem que vivenciar as formas criadas pelo ego vibrando dentro do padrão emocional que o ego cria. Afirmamos que o ser universal que vive ligado a esse ego deve escolher o seu padrão vibratório… Esta escolha, segundo o que afirmamos, consiste-se em optar pelo padrão emocional que o ego está criando ou vibrar universalmente, ou seja, com amor universal…
Vou dar um exemplo do que dissemos… Se o ego diz que o espírito está triste, ele não precisa necessariamente ficar triste. Na verdade, o ser universal pode escolher entre sentir-se triste ou não.
Por isso afirmamos que mesmo que a personalidade humana à qual o espírito esteja ligado esteja triste, isso não quer dizer que o ser universal que está vivenciando aquela encarnação também o está. Ele pode estar feliz na tristeza…
Ainda sobre este tema afirmamos: esta opção sentimental é o que comumente é chamado de livre arbítrio. O espírito tem o livre arbítrio de vibrar dentro do padrão sentimental imposto pelo ego ou de optar pelo universalismo.
O resultado desta livre opção do espírito gera, então, a realidade que este ser vive. Se o espírito, por exemplo, escolhe viver a tristeza que o ego está gerando, ele viverá uma realidade triste.
Mas, deixamos bem claro que o ego não cria esta tristeza aleatoriamente. Pelo contrário, ele age de uma forma padronizada de acordo com as necessidades da encarnação de cada espírito. Ou seja, ao gerar uma infelicidade a personalidade transitória está criando uma provação para o ser universal, pois está criando um dos pólos sobre os quais o espírito exercerá o seu livre arbítrio.
É por isso que algumas coisas para vocês, humanos, são tristes. Elas são deste jeito porque são situações criadas pelo ego para gerar ao espírito a oportunidade de cumprir uma das finalidades da encarnação: provar o que aprendeu na erraticidade…
Isso nós falamos no segundo dia. No terceiro falamos sobre reforma íntima e chegamos à conclusão que ela devia ser realizada dentro do ser (na sua escolha sentimental) e não através de atividades externas (ações). Depois definimos o que era essa reforma de dentro: não se subordinar às emoções que o ego cria
Para explicar bem esta reforma, dissemos que o ego, a partir de determinadas sensações, gera pensamentos que trazem a sensação do inconsciente para o consciente. Dissemos ainda que se o espírito se aprisiona a esta idéia não executa reforma alguma, mas que quem se reforma não se aprisiona a elas. Por isso concluímos que o espírito não é obrigado a sofrer ou muito menos a ficar alegre: ele simplesmente recebe a idéia de estar sofrendo sem sofrer.
Deste último conhecimento deduzimos que o que precisa ser feito pelo espírito durante o período que está ligado à consciência transitória (encarnado) é alcançar a liberdade das sensações propostas pelo ego. Não falamos em mudança, ou seja, em ficar alegre quando há a idéia de estar triste, mas sim em libertar-se da idéia de estar triste ou alegre…
Ou seja, falamos que o espírito deve simplesmente manter–se equânime, ou seja, na palavra de vocês, apáticos. Se o ego propõe prazer em algum acontecimento, o espírito deve ficar apático; se o ego propõe choro de dor, o espírito deve ficar apático.
Esse é o trabalho da reforma intima; esse é o objetivo do espírito empreender a grande aventura. Ele precisa aventurar-se na ligação com uma consciência diferente da dele que cria uma realidade ilusória simplesmente para provar que é capaz de optar pelo universalismo ao invés de vivenciar tudo o que a personalidade diz que é real…
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Para hoje prometemos começar a falar dos instrumentos para a reforma intima, ou seja, da espada que Cristo afirma ter trazido para que os espíritos matem o ego. Mas, antes de qualquer coisa, deixe-me esclarecer algo: o “matar” o espírito não está ligado a assassiná-lo, mas extingui-lo por inanição, ou seja, por não se deixar levar pelo que ele propõe como real.
Vamos, então, começar este estudo… Para isso pergunto: o que é um instrumento de reforma intima? Algo que lhe ajuda a libertar-se do ego.
Acho que isso é claro, não? Se promover reforma intima é libertar-se do ego, o instrumento da reforma intima tem que ser algo que vá ajudar o espírito a libertar-se da personalidade transitória…
O que o ego cria quando ele traz ao consciente uma parte técnica e um sentimento? O ego quando cria a parede e uma sensação com relação à ela, o que ele cria? Uma realidade…
O ego cria realidades, como por exemplo, “parede feia”. Esta idéia é o resultado da conjunção da criação técnica (parede) com uma emocional (feia). Esta idéia, quando chega ao consciente se transforma, então, numa realidade…
Mulher bonita, mulher que não presta, coisa velha, coisa nova, certa, errada, coisa bonita, limpa: tudo isso são realidades que criadas pelo ego e não realidades reais… Não são reais porque não existe a forma que está sendo adjetivada e nem o adjetivo que é aplicado. Isso porque o adjetivo é individual e no Universo apenas o que é universal é real…
Com esta simples observação, chegamos, então, a uma conclusão para algo muito discutido no planeta de vocês: se reforma íntima é libertar-se das realidades criadas pelo ego, ela se consiste em não acreditar nos adjetivos que o ego cria para as coisas…
Esse é o primeiro detalhe do estudo da espada que Cristo diz ter trazido…
Sendo a reforma intima a mudança com a sua relação como o ego e se o que o ego faz é criar realidades, ela consiste-se em libertar-se das realidades que o ego cria sobre as coisas. Simples, não?
Agora repare: não estou falando em mudar a realidade… Não se trata em, ao achar uma parede feia, passar a achá-la bonita. Isso porque parede não é feia e nem bonita: parede é parede. Parede é uma representação por formas do fluído cósmico universal. Sendo assim, o espírito precisa aprender a se relacionar com a parede que é criada pelo ego sem nenhuma opinião individual sobre ela…
Sendo assim, posso dizer que o espírito encarna para provar que é capaz de se relacionar com a parede e todas as coisas do mundo material em outros termos que não aqueles que o ego propõe.
Ficou claro isso? Não é apenas uma dedução óbvia de tudo que já estudamos em outros livros? Mas, não é isso que a cultura humana fala sobre o tema…
A cultura humana afirma que reformar-se é mudar a parede e as demais coisas do mundo. Ela diz que reformar-se é mudar-se externamente, ou seja, mudar as coisas do mundo. Isso é impossível e está fora do controle do espírito.
Como vimos, o espírito escolhe antes da encarnação o gênero de suas provações. Com isso ele cria um padrão personalizado de ser, pois a forma como ele será, ou seja, como “entenderá” as coisas do mundo é a sua provação. Se ele se mudasse externamente, ou seja, se tivesse idéias diferentes sobre as coisas, a encarnação não mais corresponderia ao gênero de provas pedido por ele mesmo…
Portanto, o que precisa mudar é a forma do espírito interagir com a parede no seu intimo e não mudar a parede ou qualquer outro elemento material.
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Por exemplo: muita gente diz que praticar caridade é doar um prato de comida. Se isso fosse verdade Cristo teria aberto um restaurante para dar comida de graça a todos. Mas, não foi isso que ele fez.
O quê que Cristo fez na verdade? Ensinou o espírito a vivenciar realidades diferentes daquela que está enxergando. Todo trabalho de Cristo é no sentido da construção de uma nova realidade a partir da fé em Deus. Quando o espírito usa a fé em Deus ao invés do que lhe vem à razão, todas as coisas deixam de ser o que parecem ser e ganham uma nova realidade.
É isso que é o trabalho da reforma intima: alterar a vida que o espírito vive, a forma como ele vivencia os valores da sua vida carnal e passar a viver tudo de uma forma equânime e com fé. Ficou claro isso?
Este é o primeiro aspecto que queria falar hoje. É importantíssimo tê-lo em mente antes de falarmos propriamente nas ferramentas, pois eles criam uma nova dimensão para as ferramentas que vamos comentar.
A partir dele podemos entender que as ferramentas para a reforma íntima precisam ser elementos que destruam uma realidade. Que destruam a realidade com a qual o ser humano vive. Mas além de tudo, as ferramentas têm que ser elementos que não criem uma nova realidade.
Ou seja, elas precisam destruir o feio da parede, mas não podem criar uma parede bonita. Precisam criar só a realidade parede, sem adjetivos, sem opiniões individuais.
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Vamos agora falar do segundo aspecto das ferramentas da reforma íntima. Aliás, este é um aspecto que em qualquer coisa da vida não vem ao mundo das idéias humanas.
Quando se propõe qualquer coisa ao ser humano, qual a primeira coisa que ele faz? Vai e faz. Ele não se prepara para fazer; sai fazendo.
Ele vai ao centro espírita e dizem: você tem que fazer reforma intima. Rapidamente sai correndo para fazer reforma intima. Mas, quando isso acontece, nada se, porque não houve uma preparação para fazer. Você precisa se preparar para promoção da reforma intima…
A primeira preparação necessária quando se fala em reformar-se, ou seja, mudar-se, é saber que a personalidade humana é uma coisa e precisa ser outra. Não é isso? Reformar-se não é isso: ser uma coisa e transformar-se em outra?
Para iniciar esta preparação, pergunto: o que é a personalidade humana, você, que um espírito vivencia hoje?
Como é que o espírito vai mudar se não sabe quem é a personalidade humana hoje? Como é que se parte para fazer uma reforma intima se não se sabe o que tem que se mudar em si mesmo?
Falo assim porque, mesmo que não veja isso, a personalidade humana sempre se considera certa em tudo. Mesmo que ela esteja errada, o ego cria um novo certo para que ela, então esteja certa…
Com a personalidade humana considerando-se certa e o espírito acreditando que isso é real, durante a reforma íntima não buscará libertar-se destas realidades. Só o que a personalidade humana, você o ser humano, considerar errado é o que espírito aceitará libertar-se.
Mas, como dissemos, o espírito não deve libertar-se apenas do “errado”, mas também do “certo” criado pelo ego. Ele tem que libertar-se de todas as idéias que o ego cria e não apenas daquilo que a personalidade humana diz que é “errado”: isso é reforma íntima…
Este é o segundo detalhe: o espírito precisa saber onde está agora a personalidade humana que vivencia na sua aventura. Ele precisa saber quem é esta consciência à qual está ligado para aí então pensar em libertar-se dela. Ou seja, mudar o que e para onde…
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Este é o segundo detalhe que precisamos conhecer antes de falarmos da espada crística: reconhecer-se, reconhecer o que na realidade é a personalidade transitória à qual está ligado…
Muitos querem fazer a reforma intima, mas não sabem quem é esta personalidade. Como libertar-se de alguma coisa se você ainda se considera “certo”? Como é que o espírito vai se libertar de alguma coisa se ele não sabe do que tem que se libertar?
Por isso, antes falarmos dos instrumentos da reforma intima vamos reconhecer qual é a situação atual de qualquer ser humano. Só depois de sabermos isso poderemos entender do que termos que nos libertar quando acabar a reforma intima. Apenas quando tivermos esta consciência poderemos, então, aprender a usar esses instrumentos.
Portanto, esses são os dois aspectos dos instrumentos que vamos falar hoje. A cada instrumento precisaremos falar o que é hoje o ser humano, como ele vive hoje e como deveria ser a existência dentro do universalismo.
Entretanto, ao abordarmos estes aspectos, não estaremos criticando o ego, o ser humano. Lembrem-se do que disse antes: o ego é minuciosamente preparado dentro das necessidades da aventura do espírito. Ou seja, quando demonstrarmos como são as realidades criadas pelo ser humano estaremos tendo sempre em mente que elas precisam ser assim para que o espírito possa, então, realizar a sua provação.
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Participante - Como se preparar para as mudanças?
É isso que nós vamos falar hoje.
Participante – Devemos procurar ouvir o que as pessoas dizem da gente?
Não, não precisa de tudo isso… Se você for se levar pelas pessoas vai acabar se tornando no que os outros querem e não no que Deus quer.
Nós vamos entender isso já, já.
Participante – Mudar para Deus. A mudança é mudar para Deus.
Sim, é mudar para Deus. Mas, veja: isso para nós ainda é muito inconsistente. Como mudar para Deus se nós não sabemos nem quem é Deus ou o que Ele é ou como Ele é? Temos noções; cada um tem uma noção individual sobre Deus, mas não O conhece na verdade… E, na verdade jamais O conheceremos através do mundo das idéias…
Tudo o que um espírito vivencia durante a encarnação, ou seja, quando não ligado à sua consciência primária, são as idéias que o ego cria sobre Deus e não a realidade do Senhor. Se a personalidade humana mudar esta idéia, a mudança do espírito ainda continuará presa a uma noção individual de Deus. Com isso ele não se muda, pois em essência continua acreditando no que o ego diz ser Deus.
Então veja: a reforma íntima consiste-se do espírito libertar-se do ego e mudar-se para Deus, mas sem esperar que a personalidade humana identifique o que é Deus para depois se mudar.
Respondendo-lhe, então, afirmo que reforma intima consiste-se na mudança para Deus, mas isso não deve levar ao apego do o ego diz que é Deus. É preciso que o espírito se conscientize que Deus é, no momento, algo inatingível, intocável e inexplicável, ou seja, um nada. A partir daí deve libertar-se de qualquer outra idéia que defina Deus…
Portanto, de nada adianta se apegar à idéia do ego que afirma que tais comportamentos denotam uma vivência com Deus. Como ele pode afirmar isso se nem sabe quem é o Pai e o que ele quer para um de seus filhos?
É justamente por acreditar nas idéias sobre Deus que o ego cria que o espírito apega-se à condenação do assassino. É a partir destas idéias que o espírito acredita que Deus não queria que o outro fosse assassinado. Será que Ele não queria mesmo?
Este é o problema da reforma íntima: o espírito quer se mudar para Deus, mas um Deus que seja compreendido através das idéias humanas. Só que quando faz isso não se muda para nada, porque continua apegado às idéias, mesmo que elas sejam diferentes de outras que a personalidade humana teve antes…
Compreenda: quem cria a realidade de um assassinato, por exemplo, de ter acontecido uma maldade, é o ego. No Universo de Deus não existe maldade, não existe dor…
Participante – Para nos despirmos do ego passaremos a ser o quê? Mestres?
Não, espíritos.
Participante – Só que espíritos mestres como são chamados, não?
Não, sendo apenas espíritos, ou seja, como tendo voltado à sua consciência espiritual. Isso porque, na hora que você for espírito está liberto do ego.
Enquanto você se acreditar como ser humano, não importa se na sua consciência espiritual é um mestre isso ou aquilo, você será o humano. Enquanto você se considerar como ser humano, vivendo uma vida humana, você é escravo do ego.
Na hora que você se entender como um espírito vivendo uma aventura espiritual na encarnação, aí se libertou da ação. Mas isso não quer dizer que a sua vida material mudará: continuará vivendo a mesma vida que vive o seu vizinho que pode ser até um bandido.
Portanto, enquanto você, o espírito, estiver preso ao ego será ser humano; quando se libertar deste, ou seja, não mais creditar como real as realidades que ele cria, então será um espírito na carne…
Participante – Então nessa vida não tem como nos despirmos totalmente do ego?
Não, sem o ego você não pode viver.
É impossível ao espírito se despir do ego: o que ele pode é se libertar da ação sentimental que a personalidade humana lhe propõe, ou seja, da dualidade do prazer e da dor, do bem e do mal, do certo e do errado.
Isso é o que o espírito pode fazer; despir-se antes do fim da aventura encarnatória jamais…
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Vamos, então, conhecer as duas coisas necessárias para se entender a espada que Cristo trouxe.
Primeiro: onde você, o espírito, está hoje? Está em um estágio espiritual que chamamos de “ser humano” ou “ser humanizado”. Você é um espírito, mas neste momento está vivenciando uma etapa da sua existência eterna que chamamos de “ser humanizado”.
O que é um ser humanizado? É um espírito ligado a um ego, a uma consciência transitória que lhe constrói realidades ilusórias, que vamos chamar de “humanas”. Todos os que estão encarnados neste planeta vivem nesta condição, por mais espiritualizado que seja.
Isso é preciso ficar bem claro. O que estou querendo dizer com isso é que todos os espíritos encarnados no planeta Terra estão dentro de uma mesma faixa vibracional. Saiba que não existem santos sobre o planeta: todos que estão encarnados estão sobre a influência de um ego e, por isso, são seres humanos.
A partir desta constatação podemos começar a entender as características da humanização do ser, ou seja, característica que os egos aos quais os espíritos encarnados na Terra possuem.
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Primeira característica do ser humanizado: característica material.
O que quer dizer isso? O ser humanizado é um ser perceptivo, ou seja, tem percepções (visão, audição, olfato, paladar e sensibilidades do corpo) que fazem parte das realidades com as quais o ser humanizado.
Vou dar um exemplo disso: você está sentado onde?
Participante – Cadeira.
Isso: você está sentado numa cadeira.
Repare na resposta dele e veja como está preso à matéria. Falo isso, porque ele está conosco desde a primeira palestra e já me ouviu dizer que os objetos materiais são formados por fluído cósmico universal. Por isso deveria ter me respondido “estou sentado em fluído cósmico universal”. Mas não fez…
Por que não fez? Por que, apesar de já ter a informação e dizer que entendeu o ensinamento, ele ainda falou que está sentado numa cadeira? Porque vocês podem saber das coisas espirituais, mas não conseguem vivenciá-las. Ele sabe o que falei, mas o apelo a viver o que é percebido é maior do que a lógica nova…
Por isso não me respondeu que estava sentado em fluído cósmico universal. Mas, mesmo que quisesse forçar esta resposta – falar apenas por falar – ainda estaria errado. Por quê?
Se ele realmente fosse consciente do que falei antes teria que me dizer que ele não estava sentado. Isso porque se a cadeira é fluído cósmico universal porque é um elemento do mundo material, o corpo também o é. Neste caso, não haveria na sentado: o fluído cósmico estaria em contato consigo mesmo…
Essa é a primeira característica do ser humanizado: ele, por mais que tenha informações do mundo espiritual, vive a vida material, ou seja, a realidade do mundo material através das percepções do corpo. O que ele vê existe; o que prova o sabor existe; o som que ele ouve existe. Se algo não for percebido por nenhuma destas percepções, para ele não existe, não é real…
Mas, na realidade nada disso existe. Todos os elementos do mundo material são criados pelo ego, pela parte técnica do ego. Na realidade real (a do espírito, do Universo) só existe a matéria universal, o fluído cósmico universal, que não possui densidade, forma, sabor ou cheiro…
Os objetos do mundo material, sejam eles quais forem, são imagens geradas pelo ego a partir da percepção do fluido cósmico universal. Eles não são reais, mas apenas uma imagem criada pelo ego a partir de algo completamente diferente…
Essa é a primeira característica de um ser humanizado, ou seja, é o ponto de partida para o espírito que quer promover a reforma intima: compreender que precisa libertar-se da realidade material que vive. Cadeira não é cadeira.
A partir daí pergunto: para o espírito que está ligado ao ego o que deve ser uma cadeira? Nada…
Lembrem-se do que eu já disse: não é criando uma nova realidade que o espírito promoverá a sua reforma íntima, mas libertando-se da realidade virtual, da realidade que o ser humano conhece.
Mesmo que o ego crie uma idéia que afirme que tudo é fluído cósmico universal, o espírito também não deve apegar-se a ela. Por quê? Porque esta idéia é fomentada por figuras materiais que são ilusórias.
O ego só é capaz de trabalhar com elementos conhecidos do mundo material. Tudo o que não é conhecido ele não consegue fazer uma figura, uma forma e, por isso, jamais será capaz de exprimir a realidade real.
Como o fluído cósmico universal existe num mundo onde não há formas, o ego não consegue gerar imagens dele. O máximo que faz é criar idéias, ou seja, comparações com elementos conhecidos. É por isso que vocês chamam o elemento universal de energia.
Fluído cósmico universal não é energia. Aliás, fluído cósmico universal é energia, mas energia não é o que vocês conhecem como energia. Isso porque a energia que vocês conhecem é apenas uma figura, uma representação criada pelo ego para o fluído cósmico universal. É assim que o Espírito da Verdade responde à Kardec quando este pergunta se o fluído cósmico universal é a energia elétrica que os humanos conhecem…
Portanto, a reforma íntima consiste no espírito “lutar” contra o ego que coloca as coisas do jeito que são. Isso porque, depois de criar formas para as coisas, o ego propõe emoções que vão dizer que aquela forma é bonita ou feia, limpa ou suja.
Eu pergunto: se não houver chão, como é que vai haver sujeira? O espírito que luta inicialmente para libertar-se das formas criadas pelo ego mais facilmente repudia as emoções, pois não encontra mais sentido para elas existirem. Já o espírito que continua acreditando nas formas tem mais dificuldade de realizar a reforma do seu interior porque os objetos que o ego cria são sujeitos ao dualismo.
Mas, mesmo o dualismo criado pelo ego é falso. No Universo não existe nada dual…
Um dia perguntei a uma pessoa: como é o nome desse piso que vocês usam? Ele me respondeu: cerâmica. Aí perguntei: do quê ele é feito? De terra, barro, responderam-me… A partir disso eu perguntei: o que vai sobre este piso que vocês chamam de sujeira?
Pois é… A sujeira terra e barro é feia quando está sobre a cerâmica que é terra e barro… Ambíguo, não?
Aí o ser humano me respondeu humanamente: mas isso é cerâmica, aquilo é sujeira. Não, isso é terra e barro e aquilo é terra e barro. Eles são iguais porque são compostos pelos mesmos elementos. É o ego, o gerador de provações do espírito, que separa terra e barro em cerâmica e e em sujeira.
NOTA: Apesar de não ter citado diretamente, o comentário do espírito amigo fala de conceitos. O mesmo elemento humano sujeito a conceitos pré-formados pode deixar de ser bom para ser ruim, de ser belo para ser feio.
Além de separar a terra e barro em duas verdades, o ego cria a sensação de que sujeira não é bom… Mais: cria a idéia de que a terra e barro sujeira não deve estar ali, apesar de tecnicamente ser a mesma coisa da cerâmica…
Concluindo, então, afirmo: enquanto o espírito não se libertar da visão Terra sobre as coisas – ver sujeiras – ele vive a emoção como real e vai, então apegar-se à idéia de que aquilo tem que ser limpo.
Mas, não para por aí… A partir desta aceitação o ego criará um culpado – aquele que deixou a sujeira ali – e junto com esta idéia uma nova emoção que servirá de provação ao espírito que está ligado a esta personalidade humana… Mas isso é outra história que vamos falar depois…
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Esta é a primeira característica da humanidade do ser e a primeira coisa que precisa ser alterada. Mas, como falei, esta alteração não se trata de alterar valores ou nomes das formas.
De nada adianta ao espírito que quer promover a sua reforma íntima começar a chamar a parede de rabo ou de qualquer outra coisa. Isso simplesmente não vai lhe levar a lugar algum…
O que ele precisa alcançar é a ausência de qualquer valor humano. Como disse Cristo, vencer o mundo, vencer os valores que são dados às coisas do mundo…
O que é parede? Não sei. Este é o trabalho que o espírito precisa realizar para alcançar êxito na sua aventura…
Sabe por que isso? Porque além das verdades individuais (conceitos individuais) existem diversas verdades (conceitos) que são coletivas. Estas verdades surgem de forma espontânea no ego e por fazerem parte de uma chamada cultura geral, o espírito se prende automaticamente a elas como real a partir do momento que vive a realidade de uma forma.
Na parede nós temos um bom exemplo disso. Quando se fecha a porta de um quarto cercado de paredes, o ego humano cria a idéia de que ninguém está lhe vendo. Por quê? Porque existe um conceito geral que afirma que a parede bloqueia a visão.
Doce ilusão… Tem muito mais gente observando as ações que estão sendo praticadas neste momento do que se este ser humano estivesse no campo de um estádio de futebol.
Que ver outro exemplo? O ego afirma: eu sou mulher, porque possuo um corpo de mulher e por isso devo me identificar como mulher. Quantos conceitos surgem a partir dessa identificação de um sexo que o ser humano (ego) se acha obrigado a cumprir? Só para ficarmos no superficial, estes conceitos dão aspecto de real a idéias como ter que andar sempre bem arrumado, de brincos, usar maquilagem, etc. Não é isso?
Pois bem, o espírito que vive como real a idéia “eu sou mulher”, sente-se obrigado a fazer tudo isso. Quando por qualquer motivo que o próprio ego crie para não fazer, a mesma personalidade humana gera a insatisfação de não ter realizado o que a feminilidade exigia e justifica que esta insatisfação é real porque o conceito coletivo não foi atendido. Pronto, lá vai o espírito aceitar esta insatisfação ao invés de optar pelo amor universal…
Além do mais, o ego utiliza-se dos mesmo conceitos para julgar os outros. Justamente pelo espírito aceitar a identificação como mulher que o ego cria é que ele passa a vibrar de uma forma não universal quando a personalidade humana cria a ideai de cobrar de outras mulheres o cumprimento deste conceito global.
Veja, então, nos pequenos e corriqueiros exemplos que dei antes como se prender a forma, ou seja, as características humanas que o ego cria e diz que são reais através das percepções, age como se fosse uma bola de neve levando o espírito ao aprisionamento a tudo aquilo que o ego diz que é real, àquilo que o ego determina para aquela forma.
Por isso na reforma intima é fundamental o espírito não se identificar com as formas que o ego cria. Volto a repetir: não se trata de mudar de seis para meia dúzia…
De nada adianta o espírito querer ser assexuado, porque esta condição humana também possui diversos conceitos coletivos que vão aprisionar o espírito às emoções que o ego criará…
Para a reforma íntima, o espírito deve não aceitar o valor de mulher, a realidade de ser essa forma. Ao não aceitar esta imposição da personalidade humana, todas as obrigações inerentes a ela somem e com isso as emoções são injustificadas…
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Participante - Comentário sobre essas questões da feminilidade: enfeitar alimenta o ego…
Como disse falei, eu dei exemplos simples e corriqueiros, mas também não me estendi em todos os aspectos de cada um deles.
Na verdade, a feminilidade não leva só a obrigação de se enfeitar, mas, por exemplo, por causa dos conceitos coletivos formados a partir da feminilidade a mulher exige que o homem abra a porta do carro, que tem que ser tratada com carinho, que não pode ser alvo de brutalidade, que alguns assuntos não devem ser abordados na sua frente, etc. Nenhum destes conceitos é realmente real: tudo são idéias que o ego cria para justificar uma emoção que ele gerará para a provação do espírito.
Participante – Então devemos parar com isso?
Achei que estava sendo até chato ao falar insistentemente que não se trata de mudar, mas sim de libertar-se Agora vejo que preciso falar mais…
Não é parar de ser assim; é se livrar da obrigação de ser assim…
Como disse, evolução não é mudança, mas liberdade de ter que agir de uma determinada forma padronizada. Não há nenhum problema em passar maquilagem na cara: o problema é sentir-se obrigado a passar.
A obrigação do atendimento de uma regra coletiva ou individual cria o padrão de certo. É certo passar maquilagem, por isso todas as mulheres têm que passar. Quando você acredita na existência de um padrão coletivo como certo se torna escravo dele – acredita que tem que cumpri-lo.
Além de se tornar escravo, o padrão de certo serve como base para o julgamento de quem não passa, classificando-a como errada. Por que esta pessoa, para você, é errada? Porque ela descumpriu o seu padrão, que para você é o certo. Mas, tudo isso só aconteceu por quê? Porque você aceitou o conceito coletivo como real…
Mas, e se você agora criasse um novo padrão dizendo que as mulheres não devem se enfeitar, será que isso acabaria com o julgamento dos outros? Claro que não: você passaria a julgá-los a partir do novo conceito…
Portanto, a evolução espiritual não se trata de mudança de um padrão para outro, mas sim da liberdade a qualquer padrão. Para isso é fundamental que o espírito compreenda que existe uma realidade que não é a que ele vive no momento.
FONTE:
http://projeto2012.wordpress.com/
Por Carmen Arabela às 04:24